Três dos sete livros planejados estão nas livrarias. As histórias apresentam uma mistura de ingredientes precisos: personagens singulares e corajosos, magia, humor, situações imprevisíveis, cenários bizarros, realidade e ficção, bem e mal.
Escritos para jovens de oito a doze anos, os livros de J. K. Rowling que viraram um fenômeno não deixam de agradar a crianças e adultos também. As 8,2 milhões de cópias vendidas nos Estados Unidos mostram que seus livros viraram parte das vidas das pessoas.
No que a série Harry Potter foi inspirada?
Eu realmente não sei de onde a idéia saiu. Apareceu na minha cabeça quando eu estava viajando de trem para Londres. Primeiro veio o Harry, depois todos os outros personagens e cenários. O Harry já veio todo formado, assim como seus braços direitos, Rony e Hermione. Me lembro que senti uma animação como nunca havia sentido. A história nasceu em 1990, mas levei seis anos para transformá-la em um livro.
Como o processo de escrita funciona para você?
Como os personagens nasceram cedo e eu tinha a sensação de que os conhecia inteiramente, eu primeiro me concentrei no enredo. Eu amo uma trama bem construída, tanto que quando eu acabei o primeiro livro, eu já tinha planejado a trama dos outros seis.
Como você consegue montar uma história tão detalhada e deixá-la interessante?
Se eu trabalho duro em um enredo e ele é bem construído, então eu tenho liberdade de acrescentar partes engraçadas e detalhes dentro dele que acabam se tornando o mais interessante.
Você escrevia histórias quando era criança?
Sim. Escrevi minha primeira história quando tinha seis anos de idade. Desde então, o que eu realmente queria ser era escritora. Minha primeira história foi sobre um coelho chamado Coelho. Ele pegava sarampo e todos os animais amigos dele iam visitá-lo. Sei que ninguém vai querer comprar os direitos cinematográficos dessa história, mas eu fiquei muito orgulhosa dela.
Que conselho você daria para crianças que querem ser escritoras?
Sei que vou parecer uma professora falando (até porque eu fui professora antes de começar a escrever Harry Potter), mas foi assim que funcionou comigo; primeiro leia, depois pratique e sempre planeje. Leia o máximo que puder, pois isso vai te ensinar o que é uma boa escrita. Quando você for escrever, vai perceber que vai imitar seus escritores favoritos, mas não há mal nisso; faz parte do processo. Continue até achar seu estilo próprio. Escrever é como aprender a tocar um instrumento: você vai escrever muita porcaria antes de atingir o tom certo. E tudo será mais produtivo se você planejar exatamente aonde quer chegar.
O que você mais quer dos seus leitores?
O que faz a leitura ser única é a experiência individual. Meus leitores têm que trabalhar comigo para criar a história, usando a imaginação deles. Ninguém vê um livro e seus personagens do mesmo jeito; as pessoas imaginam tudo diferente. Não é que nem na televisão em que todos nós vemos as mesmas imagens e temos uma participação passiva. Quando você usa a sua imaginação na leitura, você está estabelecendo uma comunicação com o autor. Em uma boa história, o leitor sabe o que está se passando na mente do autor. É isso que torna a leitura mágica.
De onde você tirou todos aqueles nomes de pessoas, comidas, feitiços, jogos e animais?
Alguns desses nomes foram inventados, mas eu também peguei nomes e palavras e as usei onde serviam. Por exemplo, “Malfoy” e “Voldemort” são nomes inventados. Já “Dumbledore” significa “besouro” em inglês arcaico. “Hagrid”, que aliás é um dos meus personagens favoritos, também vem do inglês arcaico “hagridden”, que significa “ter uma noite de pesadelos”. Também peguei nomes de lugares. “Dursley” é um lugar na Grã-Bretanha, assim como “Snape”. “Edwiges” foi uma santa. Já a palavra para quem não é bruxo (em inglês) é “muggle” (trouxa), que é uma distorção da palavra “mug”, que significa “facilmente enganado”; só modifiquei ela para soar mais gentil.
Quando você escreve, você costuma errar e ter de começar tudo de tudo?
Eu erro todo o tempo. Na verdade, tem um capítulo no livro que eu estou escrevendo agora (Harry Potter e o Cálice de Fogo) que está me dando problemas. Já escrevi oito versões diferentes do capítulo, que é muito importante na história. Eu escrevo, mas não parece apropriado; é frustrante.
A magia dos seus livros é real ou você inventou?
Fiz várias pesquisas sobre folclores e a história da magia. Um terço do que há na história se baseia em coisas que as pessoas costumavam pensar, e dois terços eu inventei. Por exemplo, os dementadores são inventados mas os hipogrifos são baseados em criaturas que as pessoas acreditavam existir. Eu não acredito na magia que está representada nos meus livros.
Haverá um filme de Harry Potter?
Haverá um filme de Harry Potter. Não será animação. A Warner Brothers é quem vai fazer, e eu os escolhi porque eles queriam que fosse um filme real. Mal posso esperar para ver como eles vão mostrar o Quadribol.
Por que você acha que os livros são tão populares?
Acho que uma das razões seja pelo fato de que o Harry, sendo uma criança, tem de aceitar situações adultas em sua vida. Além do mais, ele possui falhas humanas com as quais as pessoas se identificam, não deixando de ser uma pessoa admirável. Ele só chega longe nas suas aventuras pois quebra regras. Seu papel particular no grupo dos três amigos é ser a consciência dele; ele vai violar regras se achar que é por uma causa maior, mas ele tem a consciência de que as escolhas que uma pessoa faz mostram mais sobre ela do que as suas habilidades. Também gosto de pensar que as pessoas gostam das minhas histórias simplesmente porque elas são boas histórias. Me diverti muitas as escrevendo, e espero que as crianças se divirtam muito as lendo.
/Accio Quote, The Boston Globe, 28 de outubro de 1999