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Os Malfoy – Narcissa

A cena da Copa Mundial de Quadribol, em Harry Potter e o Cálice de Fogo, é definitivamente uma das cenas das quais mais senti falta na adaptação cinematográfica (claro, eu não vi o Enigma do Príncipe ainda; ê falta de otimismo…). Isso porque ela traz uma gama de elementos novos – o quadribol em si ganha uma tonalidade completamente diferente – e porque é um dos raros vislumbres que temos da relação familiar dos Malfoy.

Inicialmente a impressão que Narcissa passa é de uma concha (vazia ou, a julgar pela descrição de sua expressão, cheia de coisas muito ruins). De qualquer maneira, somos convidados ou a julgá-la – sabendo que é irmã da Lestrange e mulher de Lúcio Malfoy, oras, como não?; ou a estudá-la e esperar por mais informações.

Claro, eu fui pela primeira opção (sério? Você foi pela segunda?)

No início d’O Enigma do Príncipe, um pequeno alarme soa e nos faz esperar mais da personagem.

Quem é essa mulher? Se afinal ela é uma Malfoy desagradável, porque não abre mão do amor materno enlouquecido?

Lúcio Malfoy é um grande idiota. Há um tanto de medieval no casamento dos dois, um tanto de “não quebre as tradições”. Era importante manter o sangue puro; era importante manter-se na família (não é exatamente prazeroso ter uma bola de cinzas no lugar de seu rosto na árvore genealógica da família); era importante manter a família em evidência. Casamento por conveniência, relações inconvenientes.
Não parece haver uma grande relação de amor entre Narcissa e Lúcio, mas uma adoração extrema dela para com Draco – e de Draco para com ela, afinal, “Não ouse falar da minha mãe, Potter!” -, uma relação de amor profundo que acaba descrevendo toda a filosofia que J.K. Rowling teoriza por toda a série.

“O amor que salva”.

Eu gosto de Narcissa, assim como de Draco. Tenho uma tendência a gostar de personagens – e pessoas – fracos por seu amor.

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Os Malfoy – Lúcio

Sempre imaginei para os Malfoy uma espécie de Malfoylândia, onde tudo seria permitido, meio Woodstock wannabe. Simplesmente não me parecia lógico que Lúcio Malfoy realmente interagisse com a sociedade.

Ele iria ao ministério para galeões, ao Gringotes para tê-los em sua mão, à Travessa do Tranco para seus artefatos mágicos nada inocentes e, então, à Malfoylândia, para divertir-se com Narcissa.

“Pavões”.

Seus elfos compravam o básico e ele deitava em sua cama todos os dias sabendo que ali ele encontrava seu verdadeiro eu, rolando em riquezas, dentro de sua cúpula de diamante com pequenas pepitas de ouro incrustadas.

Talvez até alguns rubis, e grandes tapeçarias com fios dourados.

“Pavões”.

Talvez também o coração de Lúcio Malfoy fosse de ouro – não-figurativamente falando: frio, pesado e caro, tão caro que só Lord Voldemort se dispôs a comprá-lo, e ainda assim somente por saber que junto com ele viria aquela maravilhosa cúpula da qual poderia e necessitaria usufruir.

Depois, pareceu que a cúpula Malfoy estava em torno apenas do patriarca, ou que o ar começou a ficar rarefeito por lá. Afinal, Draco Malfoy queria sair.

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As Relíquias da Morte e Lia Wyler

Essa semana, ao pegar meu exemplar de Relíquias da Morte pela primeira vez (só havia lido a versão inglesa), deparei-me com algumas… peculiaridades na tradução (como Xenofílio, e um eventual “pô” saído da boca de Harry Potter!). Traduzir não é um trabalho simples, ou fácil, e por vezes lendo o livro me peguei perguntando se a Wyler tinha travado em determinados trechos.

É bem verdade que desde o início da série, a tradução de Lia Wyler foi, no mínimo, discutida. A principal confusão se deu, certamente, ao anúncio oficial do título de Harry Potter and the Half-Blood Prince em português: o Enigma do Príncipe. Perceptível a revolta dos fãs com tal mudança de sentido, atrevimento da tradutora, competências postas em jus e, quando o livro é lançado, explicações.

Rowling não é uma pessoa tão simples a ponto de nomear um dos livros com a “solução do mistério”. O que ela queria que tirássemos de Half-Blood Prince, ao terminarmos de ler o livro, não era simplesmente alguém que se orgulhava de ser mestiço, ou que se chamava o príncipe dos mestiços. A percepção ia além, muito ao contrário da primeira impressão: o dono do livro tinha orgulho porque metade do seu sangue (figurativamente falando) era Prince, sobrenome de sua mãe bruxa. O orgulho vinha não da mistura, mas da sua linhagem pura.

E ao ler a versão portuguesa da estória, tenho que cumprimentar Wyler por não nos ter saído com um “Cruel” ao invés de Sinistro, ou “Caldeirão Escoador”, à guisa do nosso bom e velho Caldeirão Furado. Nunca tive eu motivos para reclamar dela, principalmente depois de saber pessoalmente o que se passa ao traduzir expressões inglesas intraduzíveis (vide a “ingenuidade piscante”, na tradução da review de Babbitty Rabbitty e o Toco que Cacarejava, um dos contos de Beedle, o bardo).

Porém, nesse último livro, encarando Xenofílio, comecei a me perguntar. Não seria errado traduzir nomes? Porque Xenófilo me parece perfeitamente cabível, e com uma ambigüidade ainda maior que Xenofílio. Ainda assim, Xenofílio it is. É complicado entender como os tradutores decidem a vertente a seguir. A fina linha que define os significados, e que no fim, acho eu, acabam dependendo da sorte.

E o Harry falando “pô”, foi no mínimo hilário.

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[COLUNA] Crepúsculo

Essa semana fui surpreendida pela notícia de que Crepúsculo (o filme) virá para o Brasil com censura 16 anos. Não que me importe muito, mas inevitável foi a comparação com toda a franquia Harry Potter. Harry Potter e a Pedra Filosofal, filme infantil (como o livro), lançado sete anos atrás, marcou o início da materialização do sonho – e se você não viu uma ambigüidade aí, releia.

Ainda estonteados com o fato de que, por motivos puramente capitalistas, a espera para Harry Potter e o Enigma do Príncipe foi aumentada em oito meses, fãs de Harry Potter têm que superar o fato de que os filmes que saem de lá PG-13, chegam aqui com censura 12 anos, que lota os cinemas de inconveniências.

Crepúsculo, esse fenômeno-flash que espocou do nada, também sai de lá PG-13, e chega 16 anos. Explicação? Materialização do sonho. Porque quando Harry Potter começou, o público era essencialmente infantil; e mesmo que essas crianças tenham crescido, que as personagens tenham crescido, que a história tenha crescido… Você não pode perder tal público, pode?

Crianças e seus pais consistem, provavelmente, em mais da metade da bilheteria dos filmes, e não importa se não cabe a uma criança ver dementadores, magia negra, um homem sem nariz abusando de seu herói, testrálios ou todos os problemas crescidinhos do Harry de quinze, dezesseis, dezessete anos. Público de Harry Potter é infantil, ponto.

Também não cabe a mim criticar a Warner Bros., mas é revoltante a estereotipagem que tudo isso traz. É revoltante quando alguém me chama de criança porque eu aprecio a obra de J.K. Rowling; é revoltante quando ouço alguém dizer que Harry Potter não tem história, entre outros que nem merecem ser comentados.

Enfim. Há controvérsias. E eu que nunca ouvi falar de Crepúsculo (hipérbole, hipérbole), vou acabar na fila do cinema para vê-lo, porque, afinal, sou contra estereótipos

Em última hora: estamos todos mesmo sujeitos à volatilidade capitalista; Crepúsculo vem 12 anos e esperamos nos deliciar numa sala cheia de molecotes. E o alarme falso só serviu de reflexão.