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Minha vida sem Harry Potter

Nostalgia. Mal acabou e já é assim que nos sentimos: desmedidamente e avassaladoramente nostálgicos. A estréia de “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2” gerou uma onda de reminiscências e saudade que invadiu os cinemas do mundo. Fileiras e fileiras abarrotadas de jovens (e muitos nem tão jovens assim) mergulharam de cabeça em suas lembranças, contando uns aos outros como aconteceu seu primeiro contato com o mundo mágico, a maneira como costumavam viver os dias de estréia dos filmes ou como corriam para as livrarias e garantiam o novo livro da Joanne. A saga Harry Potter encontra sua estação derradeira e a gente se pergunta o que vem depois do fim.

Para uma porção de gente, é um ciclo que se fecha. Um sinal para que sigam uma nova etapa. Funciona quase como um empurrão para fora da adolescência. Quantos de nós já não contam vinte e tantas primaveras? Hora de guardar a fantasia na gaveta e arregaçar as mangas. Estudos, emprego, contas a pagar, casamento, até filhos. Vida de trouxa não é mole. Não foi o Dumbledore mesmo quem disse que não valia a pena ficar sonhando e esquecer de viver? Então?

Tem um pessoal que não tem idade ainda para encarar de frente esses probleminhas de trouxa. Melhor para eles, não? Mas tem gente que também não vai largar a varinha ou saltar da vassoura ainda que a realidade chame. Ainda que a realidade grite!

A minha realidade anda berrando em meus ouvidos. Os berros estão ficando cada vez mais e mais e mais fortes! Ah, reparo que foi meu filhinho quem despertou e está chorando no berço. Tarefa trouxa? Não, esse é mais um serviço para a mãezinha bruxa que sou. Descubro que a realidade pode se impregnar da mais bela e poderosa magia quando resolvemos tratar dela com criatividade e, sobretudo, amor. Minha vida sem Harry Potter será uma vida cheia de Harry Potter.

Deixar a mágica no ar é nosso dever. Cerrar os olhos e se imaginar em Hogwarts, um exercício diário. Aplicar os ensinamentos os anti-preconceituosos e solidários que a saga deixou, uma rotina. Reler e reler os livros será uma maneira de voltar para casa. Tente. Persista. Pratique. Não deixe de viver para sonhar ou deixe de sonhar para viver. Vivamos! Sonhemos!

Agora deixem que eu vá pois meu pequeno bruxinho precisa de carinho e cuidados. Fralda para trocar, sopinha para fazer… Algo que uma conhecedora do sacrifício de Lílian pode fazer sem reclamar.

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[COLUNA] Harry Potter: para crianças maduras ou adultos infantilizados?

Eu e meu sobrinho (14 anos) combinamos de ir juntos para a estréia de HARRY POTTER E O ENIGMA DO PRÍNCIPE. Minha irmã caçula, com todos os seus dezoito anos de vida, não podia ficar de fora: apressou-se logo em dizer que nos acompanharia. Por fim, Mamãe, com suas dignas 43 primaveras, engrossou nossa caravana. Duas amigas da faculdade também manifestaram interesse, mas esbarraram na limitação dos ingressos (estavam esgotados). Ah, e por mais que ele protestasse, não poderíamos levar o pobre do meu priminho de nove anos, pois a censura não permitiria.

Com este cenário, andei matutando sobre a pluralidade de pessoas que curte a série de J. K. Rowling. Não é mesmo curioso que eu e minhas colegas de faculdade tenham a mesma paixão que meu sobrinho de 14? Um dos pontos interessantes a analisar entre os leitores do jovem bruxo é a diversidade etária. É claro que a maioria dos leitores é jovem, mas mesmo dentro da categoria “juventude” encontramos fases diversas. Definitivamente, a saga Harry Potter agrada um público enorme e variado. Para explicar tal abrangência, levantei duas hipóteses.

A primeira hipótese é também a mais óbvia: quando tornaram-se fãs do então pequenino Harry Potter, as pessoas eram quase ou tão pequeninas quanto o bruxinho (esse foi o meu caso). Como a série exerce grande fascínio e um incomum apego, os leitorezinhos ficaram adultos e não largaram mais o mundo mágico de J.K. O que reforça essa tese é o incontestável amadurecimento de Harry Potter e seus fiéis amigos ao longo da série. Os livros tornaram-se mais densos, com discussões cada vez mais maduras. A obra de J.K. foi crescendo com a gente. Surgem em Harry os conflitos da adolescência, a apaixonite, a descoberta do amor…

A outra hipótese tem a ver com o apelo exercido pelo cinema. Os filmes são mais rapidamente absorvidos pelo grande público. Ainda que parte dos filmes da saga seja recomendada para um público com mais idade (HARRY POTTER E O ENIGMA DO PRÍNCIPE tem censura 14 anos), as crianças, fortemente atraídas pela magia da série, recorrem às locadoras. Os meninos e meninas ainda não habituados à leitura de longos textos não encontram esse problema com os filmes; moças, rapazes, homens e mulheres, leitores ou não da saga, acompanham pela telona as aventuras de Harry. Por sua vez, os filmes levam essas crianças, jovens e adultos até os livros.

Acho que a miscelânea etária observada é produto da mistura dessas duas hipóteses com mais uma porção de outros tantos motivos. Vou chegando à conclusão de que a saga Harry Potter não foi pensada para agradar criança ou adulto. As envolventes aventuras contadas por J.K. são para todos aqueles que não abrem mão de histórias boas e verossímeis ( e é uma pena que parte dos adultos não costume romper as barreiras do preconceito e dar asas à imaginação). Não é literatura para crianças maduras ou adultos infantilizados. Tratam-se de livros mágicos que amadurecem com a gente.