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[COLUNA] Harry Potter: para crianças maduras ou adultos infantilizados?

Eu e meu sobrinho (14 anos) combinamos de ir juntos para a estréia de HARRY POTTER E O ENIGMA DO PRÍNCIPE. Minha irmã caçula, com todos os seus dezoito anos de vida, não podia ficar de fora: apressou-se logo em dizer que nos acompanharia. Por fim, Mamãe, com suas dignas 43 primaveras, engrossou nossa caravana. Duas amigas da faculdade também manifestaram interesse, mas esbarraram na limitação dos ingressos (estavam esgotados). Ah, e por mais que ele protestasse, não poderíamos levar o pobre do meu priminho de nove anos, pois a censura não permitiria.

Com este cenário, andei matutando sobre a pluralidade de pessoas que curte a série de J. K. Rowling. Não é mesmo curioso que eu e minhas colegas de faculdade tenham a mesma paixão que meu sobrinho de 14? Um dos pontos interessantes a analisar entre os leitores do jovem bruxo é a diversidade etária. É claro que a maioria dos leitores é jovem, mas mesmo dentro da categoria “juventude” encontramos fases diversas. Definitivamente, a saga Harry Potter agrada um público enorme e variado. Para explicar tal abrangência, levantei duas hipóteses.

A primeira hipótese é também a mais óbvia: quando tornaram-se fãs do então pequenino Harry Potter, as pessoas eram quase ou tão pequeninas quanto o bruxinho (esse foi o meu caso). Como a série exerce grande fascínio e um incomum apego, os leitorezinhos ficaram adultos e não largaram mais o mundo mágico de J.K. O que reforça essa tese é o incontestável amadurecimento de Harry Potter e seus fiéis amigos ao longo da série. Os livros tornaram-se mais densos, com discussões cada vez mais maduras. A obra de J.K. foi crescendo com a gente. Surgem em Harry os conflitos da adolescência, a apaixonite, a descoberta do amor…

A outra hipótese tem a ver com o apelo exercido pelo cinema. Os filmes são mais rapidamente absorvidos pelo grande público. Ainda que parte dos filmes da saga seja recomendada para um público com mais idade (HARRY POTTER E O ENIGMA DO PRÍNCIPE tem censura 14 anos), as crianças, fortemente atraídas pela magia da série, recorrem às locadoras. Os meninos e meninas ainda não habituados à leitura de longos textos não encontram esse problema com os filmes; moças, rapazes, homens e mulheres, leitores ou não da saga, acompanham pela telona as aventuras de Harry. Por sua vez, os filmes levam essas crianças, jovens e adultos até os livros.

Acho que a miscelânea etária observada é produto da mistura dessas duas hipóteses com mais uma porção de outros tantos motivos. Vou chegando à conclusão de que a saga Harry Potter não foi pensada para agradar criança ou adulto. As envolventes aventuras contadas por J.K. são para todos aqueles que não abrem mão de histórias boas e verossímeis ( e é uma pena que parte dos adultos não costume romper as barreiras do preconceito e dar asas à imaginação). Não é literatura para crianças maduras ou adultos infantilizados. Tratam-se de livros mágicos que amadurecem com a gente.