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Xeque-mate

Algumas citações ficam para sempre na cabeça dos fãs de Harry Potter. Quem não se lembra da famosa “Harry, você é um bruxo” (Hagrid), da emocionante “Ofender Dobby! Dobby nunca foi convidado a se sentar por um bruxo… como um igual…” (Dobby), ou da divertida “Pelas calças de Merlin!” (Hermione)? Essas e muitas outras são excelentes e continuarão a se perpetuar.

No entanto, a frase que mais me fascina foi dita pelo personagem Ron Weasley, e, por mais sem noção que isso possa parecer, acredito que a tal frase resume tudo o que viria a acontecer no desenrolar da Segunda Guerra Bruxa (1995-1998). A citação é em A Pedra Filosofal. No meio do jogo de xadrez encantado por McGonagall, o personagem vê a oportunidade e se sacrifica, justificando que “isto é xadrez! A pessoa tem que fazer alguns sacrifícios! Dou um passo à frente e ela me come, isso deixa você livre para dar o xeque-mate no rei, Harry!”. Claro que a história é bem maior do que um jogo de xadrez; mas há algumas semelhanças que podem ser notadas entre os dois.

O princípio básico do xadrez é que cada lado defenda o seu rei enquanto procura meios de derrotar o rei adversário. Harry e Voldemort, os protagonistas do jogo, assumem esse papel, já que são a própria origem da batalha e a razão para que ela exista. Os peões vão na frente, e a eliminação deles é importante para o objetivo principal de dar o xeque-mate. Alguns peões que destaco são Dobby e Edwiges, pelo lado de Harry. Acredito que, do lado de Voldemort, quase todos os seus comensais não passaram de peões, e aí estão incluídos, por exemplo,  Bartô Crouch Jr e Rabicho. Sobram então doze peças, seis de cada lado, para serem os importantes cavalos, torres e bispos. Rony, Hermione e Hagrid não precisaram se sacrificar. Snape, Lupin, Sirius, e as seis horcruxes de Voldemort não tiveram a mesma sorte. E sobram, então, as rainhas, geralmente as mais temidas pelo lado oposto. Do lado de Harry, a Rainha é Dumbledore. Afinal, xadrez não é uma questão de gênero, e sim de poder. Dumbledore é sacrificado como uma estratégia, e esta é a palavra-chave do jogo. Do outro lado, quem mais se aproxima da rainha é Belatriz Lestrange, que “brinca com a comida antes de comê-la”. Afinal, a ela foi confiado o maior segredo de seu amo.

Mas é óbvio que essa comparação não pode sair desse plano teórico. Afinal, um jogo de xadrez é um mísero jogo de xadrez, e só tem 32 peças. A história por trás do mundo que J. K. Rowling criou envolve um número muito maior de personagens. E um número maior, também, de admiradores. Afinal, somos milhões de pessoas, e esperamos uma década, sem perder o fôlego, para descobrir quem chegaria primeiro ao xeque-mate.

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Sobre elfos e prisioneiros

“Harry Potter e a Câmara Secreta” e “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban” certamente marcaram a minha infância e a de muitos outros fãs. Nesses dois livros, respectivamente, somos apresentados a dois dos mais queridos e amados personagens da nação Harry Potter: Dobby e Sirius Black. Mas pelas barbas de Merlin, o que teriam em comum um elfo doméstico e o padrinho do protagonista, um fugitivo inocente? Muito mais do que podemos imaginar.

Primeiramente, nenhum dos dois personagens pertencem às suas respectivas famílias. Dobby não é um elfo doméstico comum, uma vez que passa a pedir pagamento pelos seus serviços após ser libertado por Harry. Isso aterroriza os demais elfos, como Winky, a criada do Sr. Crouch, que diz que “elfos domésticos não nasceram para se divertir”. Na verdade, Dobby nunca gostou realmente de fazer o que a família Malfoy mandava, chegando ao ponto de tentar advertir Harry sobre a conspiração para reabrir a Câmara Secreta. Da mesma forma, Sirius não é um autêntico Black. Almofadinhas parece ter ficado no meio do caminho para aborrecer os pais, colecionando em seu quarto grandes flâmulas da Grifinória e pôsteres de trouxas, segundo J. K. Rowling “somente para enfatizar como ele era diferente do resto da família Sonserina“.

Outro ponto em comum é a relação dos personagens com Harry. Ambos dão as suas vidas para proteger o filho de Tiago e Lílian Potter. Sirius talvez seja o personagem que, ao longo da série, foi o mais parecido com um pai para Harry, mais do que Hagrid, Dumbledore e Remo. Em O Cálice de Fogo, ao sentir a sua cicatriz arder, o protagonista da série deseja despachar uma coruja para alguém “como um pai ou uma mãe: um bruxo adulto a quem pudesse pedir um conselho sem se sentir burro, alguém que gostasse dele, que tivesse tido experiência com artes das trevas”. Imediatamente, ele pensa em Sirius. Com Dobby, as coisas ocorrem de forma similar. Não que Dobby seja uma figura paterna para Harry; é quase o contrário. Sirius dá os conselhos, Dobby parte para a ação, seja seguindo os passos de seu antigo dono, seja procurando um lugar para as reuniões da Armada de Dumbledore. Mas, como eu disse anteriormente, ambos dão a sua vida, e aí também reside aquela que julgo ser a maior diferença entre os dois: a morte.

É fato que ambos morrem com o intuito de salvar a pele de Harry e seus amigos, mas, ainda que seja um elfo doméstico, considero a morte de Dobby ainda mais digna do que a de Sirius. “Aqui jaz Dobby, um elfo livre” é o que tem escrito na pedra posta em cima do corpo que jaz próximo ao Chalé das Conchas. Dobby morre livre, satisfeito consigo mesmo, e num lindo ambiente. O padrinho de Harry, por sua vez, morre sem provar sua inocência, ainda considerado um fugitivo, insatisfeito por não poder mais ajudar seu afilhado.  Toda a sua esperança é varrida pelo que há por detrás do véu.

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O amor à la Molly Weasley

“Harry deu meia-volta. Era uma mulher gorda que falava com quatro meninos, todos de cabelo cor de fogo. Cada um deles estava empurrando à frente uma mala como a de Harry – e levavam uma coruja. O coração aos saltos, Harry os seguiu empurrando o carrinho. Eles pararam e ele também, bem próximo para ouvir o que diziam.”

(Harry Potter e a Pedra Filosofal, página 83)

A essas palavras segue-se a apresentação de uma das personagens mais amadas da saga, Molly Weasley. Desde o primeiro momento em que a conhecemos, já fica claro nela um ar maternal para com Harry, ainda que ela não soubesse estar lidando com O Menino Que Sobreviveu. Pouco a pouco, vamos conhecendo toda a família Weasley, todo o amor com o qual Molly cuida dela, e como a boa senhora passa a tratar Harry como um filho. Muitos dizem que em A Ordem da Fênix, o bicho-papão da senhora Weasley nos revela todo o sentimento dela pela família, e o quanto a bruxa temia pela segurança dos filhos e do marido. Na verdade, tudo isso é perceptível desde o primeiro momento a que somos apresentados à personagem. Uma mãe que ama os seus filhos tanto quanto Lílian um dia amou Harry, capaz de tomar decisões difíceis e até imprevisíveis por pensar na família em primeiro lugar.

Quando se pára para ler toda a série novamente, percebe-se com clareza os extremos aos quais Molly Weasley chegou, pelo bem de sua família. Quando Arthur é atacado por uma cobra no Departamento de Mistérios, Molly larga A Toca e corre ao hospital St. Mungus, para cuidar de seu marido. Quando Gui é atacado pelo lobisomem Fenrir Greyback, a bruxa tem uma discussão com sua futura nora Fleur, para logo em seguida abraçá-la e chorar em seu ombro, pelos sentimentos em comum que tinha com a garota – ambas amam o filho mais velho dos Weasley. Percy larga a família para se juntar à diretriz de Fudge, e Molly fica bastante abalada sempre que se lembra do filho amado, até poder abraçá-lo novamente às vésperas da batalha final. Nessa batalha, entretanto, ela perde seu filho Fred, um dos gêmeos, e no Grande Salão chora ao lado do corpo do filho, como se uma parte dela houvesse sido arrancada. Em O Cálice de Fogo, Molly teme por pensar que as últimas palavras que ela falou aos gêmeos foram palavras de irritação, mas felizmente os irmãos sobrevivem ao incidente na Copa Mundial de Quadribol e ela pode sentir-se à vontade novamente.

No entanto, as últimas palavras que a mãe disse a Fred foram, realmente, palavras de repreensão. À ocasião, Molly briga com Fred por ele ter levado Gina ao palco da batalha, sendo ela menor de idade. Logo em seguida, o filho sai para aquele que seria seu último duelo. Mas é quando sua filha caçula, Gina, é atacada por Belatriz Lestrange, que Molly nos surpreende, fazendo aquilo a que Slughorn e Dumbledore se referem como o rompimento da alma. A bruxa mata aquela que ameaçava sua filha, após a grave tristeza pela perda de Fred. Como a série Harry Potter não é uma moda – mas sim uma lenda – lembraremos pra sempre da Moliuóli que amava incondicionalmente sua família, que acolheu Harry e Hermione como filhos – e, futuramente como parte da família -, e que, humildemente, guardou o relógio quebrado que pertencera ao seu irmão mais velho.