A saga Harry Potter é a mais sólida, coerente e rentável da história do cinema. Digam o que disserem os senhores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a adaptação da obra de Joanne Rowling para o cinema é um acontecimento único no universo da sétima arte. Afinal, quantas vezes vimos um elenco envolvido de maneira tão talentosa e dedicada em um projeto tão extenso e grandioso como este? Quando um filme para o público jovem, adaptado de uma série literária, levou para as telonas fantasia e aventura sem comprometer sua qualidade artística, mas mesmo assim arrecadando bilhões e bilhões?
O oitavo filme da franquia reunia as características necessárias para ocupar a décima cadeira vaga na categoria de Melhor Filme do Oscar 2012. Elenco grandioso, ação da melhor qualidade, efeitos especiais que retrataram quase que perfeitamente os detalhes descritivos do livro de que foi adaptado, trilha instigante, ritmo louco e apaixonante. Resultado: louvado pela crítica, ignorado pelo Oscar. As três indicações vieram encharcadas de desdém. Três vitórias nas categorias técnicas jamais fariam justiça à Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2, mas o que pensar de o filme não ter levado uma única estatueta?
A mágica combinação entre juventude, fantasia e aventura mexe com o preconceito dos conservadores, embora tenha sido determinante para o sucesso de Harry Potter tanto nas páginas como nas telonas. Se os livros de Rowling foram menosprezados pelos mais pedantes por se tratarem de literatura fantástica para o público infanto-juvenil, era de se esperar que os filmes adaptados de sua obra sofressem algo parecido em maior escala.
A Academia persiste em rejeitar os filmes que se encaixam nas categorias de fantásticos e infanto-juvenis. É claro que existem exceções, mas são raríssimas. O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei era fantástico, mas não infanto-juvenil. Sua escolha como Melhor Filme tinha um obstáculo a menos que a franquia Potter. O sucesso de A Invenção de Hugo Cabret na premiação não teria sido o mesmo se Martin Scorsese não estivesse à frente do projeto. Imaginem um diretor mortal assinando A Invenção de Hugo Cabret e reflitam se a Academia o encararia da mesma maneira.
Existem outras respostas para a saga Potter ter sido tão desprestigiada pelo Oscar. A primeira e mais importante é a de que, embora a Academia considere que julga o cinema mundial, o Oscar não passa de uma premiação estaduniense feita para o cinema estaduniense. O ar inglês dos filmes Potter não os agrada. Ainda mais quando se tratam de crianças inglesas metidas até o pescoço em fantasia!
Os filmes Potter não são os primeiros e nem serão os últimos injustiçados pela Academia. Ainda que achemos um absurdo A Ordem da Fênix, O Enigma do Príncipe e Relíquias da Morte partes 1 e 2 não terem ficado com uma estatueta sequer, vale lembrar que grandes gênios do cinema mundial foram ignorados por esta premiação. Dividimos a ala de esquecidos pela Academia com gente grande como Alfred Hitchcock, Orson Welles, Charles Chaplin… E reparando melhor nessa lista, talvez não seja tão ruim assim ficar sem estatueta. E quem precisa de Oscar?