Direção: Judd Apatow
Elenco: Seth Rogen, Katherine Heigl, Paul Rudd, Debbie Mann
Ano: 2007
Duração: 129 min
Confesso que a minha única motivação para assistir ao tal do Knocked Up foi a perspectiva de ver Katherine Heigl fora de Grey’s Anatomy e Paul Rudd fora de Friends. De maneira alguma eu esperava que o filme fosse além de entretenimento leve e apelativo – não que o enredo não seja um clichê das comédias românticas, ou que a atuação de Katherine passe de mais ou menos, mas…
O filme tem como base a relação dessas duas pessoas (Heigl como Alison Scott e Rogen como Bem Stone) completamente diferentes – ela, uma apresentadora de TV, num canal de entretenimento, independente e séria; ele, um desocupado que vive do dinheiro da indenização que recebeu ao ser atropelado alguns anos antes, morando numa república com um monte de amigos, fumando maconha, enquanto montam um site cuja premissa é dizer que atrizes ficam nuas (total ou parcialmente) em quais momentos de que filmes. Pessoas que não teriam nada em comum e muito provavelmente nem passariam tanto tempo juntos, não fosse uma noite bêbada e uma gravidez.
A personagem de Katherine, vendida como ‘a responsável’ do casal, não tem atrativos além da beleza. Não tem mais inteligência ou sensatez que o normal, então não se difere muito de nenhuma das personagens femininas de comédias românticas. Em alguns momentos, na verdade, ela toma decisões bem burras (uma das duas coisas que me deixaram muito incomodada no filme: que a protagonista realmente acredite que pode ser demitida se revelar aos seus chefes que está grávida – afinal, mesmo que você seja apresentadora de TV, existe algum tipo de lei sobre não demitir uma mulher grávida por causa de suas gravidez e de lhe dar algum tempo de férias remuneradas assim que o bebê nasce; algo como licença à maternidade, não?); então, não, ela não é o personagem a se destacar aqui.
O nível dos diálogos se mantém alto, algo praticamente impossível de se encontrar em comédias em geral. O mais memorável nessa importância dos diálogos é que Apatow (de O Virgem de 40 Anos) se vale muito daquela máxima das aparências que enganam: então tem Seth Rogen. Perfeito no papel do bobão que nunca fez nada importante na vida, mas que acaba tendo mais noção de responsabilidade que qualquer outro no filme. Articulado e sensível, exceto pelos momentos chapados (que incluem a noite em que engravidou a protagonista), o personagem é quem nos puxa para dentro da história, é quem reúne as cenas mais marcantes em torno de si.
Daí se destacam a trupe de amigos de sua República, que tem mais ou menos o mesmo perfil de desocupados sem dinheiro empenhados na construção do site pornô, que acabam, junto com o marido infeliz da irmã da protagonista, sendo o ponto de conflito: para Alison, eles e suas incompetências refletem a verdadeira personalidade de Bem, o que mostra que ele não está (como seus amigos) e provavelmente nunca estará (como seu cunhado) pronto para ser pai, marido e família de alguém (mais uma prova de que a protagonista não tinha muito bom senso, porque o tempo todo ele se mostra muito mais animado e preparado do que ela, de longe).
O momento ‘decisivo’ do filme, quando ele mostra que realmente tem algo a dizer sobre a humanidade e o amor (haha) é quando a irmã quase-tão-insuportável-quanto-a-protagonista Debbie (Leslie Mann) descobre que o marido, Pete (Paul Rudd), mentia dizendo que tinha que trabalhar até tarde quando na verdade ia jogar “Fantasy baseball” com os amigos: é quando o casal grávido, já bem irritado um com outro com todas as coisas que casais grávidos tem de fazer e lidar, se divide para defender os idéias um de Debbie (ela) e um de Pete (ele), e, entre brigas no carro, livros sobre bebês, e uma viagem a Las Vegas com cogumelos alucinógenos, temos as discussões mais relevantes do filme.
Em alguns momentos, a piada do “sexo, drogas e rock’n’roll” se excede um pouco (como na cena estúpida da conjuntivite), e existem muitas cenas absolutamente sem propósito no meio do caminho, algumas personagens extremas demais – não passa, no fim, de uma comédia romântica, portanto todos os casais ficam juntos e felizes no fim; mas o filme vai um pouquinho além de montar casais felizes. É muito mais verossímil que isso.
É um entretenimento leve com um pouco mais de qualidade que o normal. Recomendo.