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Poção do Amor No. 9

Título Original: Love Potion N°9
País/Ano:
EUA, 1992
Duração:
95 minutos
Gênero:
Comédia, Romance
Direção & Roteiro:
Dale Launer
Elenco:
Tate Donovan, Sandra Bullock, Mary Mara, Dale Midkiff, Anne Bancroft.

Filmes de comédia romântica costumam ter enredos extremamente parecidos e repetitivos – o casal protagonista se conhece, se apaixona, tem uma briga feia, se separa, e então, com a história quase acabando, um deles vem correndo até o outro, uma música emocionante toca, a câmera pára com os dois abraçados e pronto, felizes para sempre. Em Poção do Amor n°9 nos é apresentado algo totalmente diferente disso.

Para começar, o roteiro é inspirado na famosa canção do grupo da década de sessenta, The Clovers, Love Potion Number Nine. A música já ganhou mais de vinte regravações desde sua primeira performance, sendo a mais recente do grupo  Giuliano Palma & The Bluebeaters. Além do filme, a canção tem várias referências, como no jogo The Sims, onde há uma “Poção do Amor 8,5” e em Shrek 2, no qual a poção da Fada Madrinha recebida pelo rei de Tão Tão Distante tem um IX gravado na garrafa.

O filme tem um início exatamente como o da música. Paul Matthews (interpretado por Tate Donovan) é um bioquímico que não sai com uma garota há anos. Ele, junto de alguns amigos, acabam visitando uma cigana vidente, Madame Ruth. Madame Ruth, que recebeu uma maravilhosa atuação de Anne Bancroft, lê a palma da mão de Paul e, é claro, percebe a falta de garotas em sua vida. Quando sugere que Paul compre um pouco de Poção do Amor, ele diz não acreditar em coisas do tipo. A cigana, então, lhe dá algumas gotas da poção em um papel, para que teste-as. Quando Paul descobre os poderes da poção, Diane Farrow, uma amiga e colega de trabalho de Paul, pesquisa junto dele as propriedades do líquido. A partir daí já se pode para ter uma idéia do restante do filme.

Além da presença de Bancroft, mais duas atuações femininas impressionaram. Mary Mara, que interpreta Marisa, uma prostituta que rouba um frasco do da poção do banheiro de Paul, se torna o centro das atenções no quesito comédia. A cena em que ela é perseguida por centenas de homens por ter tomado muita poção arranca bons risos. Ainda mais quando a personagem descobre que pode usar os homens sob o efeito da poção como marionetes e mandá-los fazer o que quiser. Não menos importante é Sandra Bullock, ainda no início de sua carreira cinematográfica, que praticamente troca de personagem, de uma Diane atrapalhada à uma Diane elegante e requintada. Quem diria que a jovem atriz daquele filme ganharia um Oscar, futuramente. Eu, que não posso me declarar um fã de Bullock, e nunca gostara muito de seus filmes, passei a ter uma opinião totalmente diferente e melhor sobre ela depois deste filme.

Poção do Amor n°9 peca em termos de trilha sonora, em grande parte tem canções fracas e pouco marcantes, mas a presença de canções como a própria Love Potion n9, I Need a Man (Eurithmycs), Y.M.C.A (The Village People) são inesquecíveis. Músicas de fundo são extremamente importantes em um filme para aumentar as sensações sugeridas pelas cenas, e a falta de composições dedicadas exclusivamente ao filme comprometeu um pouco.

De acordo com o Box Office Mojo, o filme, que estreou em 1992 tem uma bilheteria de vergonhosos 750 mil dólares. É claro que o filme, estranhamente, ficou em cartaz por apenas uma semana em quase trezentos cinemas. Se os dados do site forem verdadeiros, não entendo porque a Fox, distribuidora do filme, não criou uma campanha que cobrisse mais países e o manteve mais tempo em cartaz. Talvez não chegasse a ser um sucesso de bilheteria muito grande, mas com certeza conseguiria muito mais que setecentos mil dólares.

Sandra Bullock,  The Clovers, Anne Bancroft, comédia romântica. Não poderia haver uma combinação melhor. Poção do Amor n°9 é, na minha opinião, o melhor filme de comédia romântica, talvez atrás apenas de E Se Fosse Verdade… (com Reese Witherspoon, recomendo para quem gosta do tipo de filme). E, para encerrar, eu não resistiria, é claro:

I didn’t know if it was day or night
I started kissin’ everything in sight
But when I kissed a cop down on Thirty-Fourth and Vine
He broke my little bottle of Love Potion Number Nine

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O Pistoleiro

Subtítulo: A Torre Negra
Autor: Stephen King
Tradutor: Mario Molina
Ano: 2004 (mais recente versão atualizada pelo autor)
Editora: Objetiva
Nº. de páginas: 224

“O homem de preto fugia pelo deserto e o pistoleiro ia atrás.” Esta é a frase que abre a obra-prima do escritor norte-americano Stephen King. O Pistoleiro é o primeiro dos sete livros da tão aclamada série A Torre Negra. Este foi o segundo livro do escritor que li (para constar, o primeiro foi O Iluminado) e, pela segunda vez, não gostei do trabalho do autor. Até achei que havia algo de errado comigo. Gosto de histórias de terror. Ele é o mestre do terror. Pensei que seria o encaixe perfeito. Não foi, entretanto.

O volume um da supracitada série narra o início da busca do pistoleiro Roland Deschain pela Torre Negra, lugar que rege o tempo e o espaço e onde se encontra a salvação para o mundo do pistoleiro, que está em decadência. Roland crê que um homem (o homem de preto, como ele o chama) possui informações que possam auxiliá-lo em sua busca até a almejada Torre. A maior parte da trama se desenrola no deserto deste mundo que está irreconhecível e vazio. Na sua implacável jornada, ele se depara com amigos, inimigos e situações inesperadas e desesperadoras. A Torre Negra se torna o sentido de sua vida. Sua obsessão.

Ao escolher este livro na biblioteca confiei mais na reputação do autor do que nos elementos que compunham a trama. Confesso que aventuras ancoradas em desertos com atiradores não me atraem. Contudo, permitindo-me uma observação fria e não-tendenciosa, notei que havia ali vários ingredientes para uma leitura, se não agradável, interessante. Stephen King nos aborda com uma introdução onde explica mais sobre a série. Confesso que fiquei bastante interessado pelo fato de ter levado quase 50 anos para a conclusão da saga. A introdução instigou-me a ler o livro. Trouxe-o para casa.

Durante grande parte da narrativa, o autor nos apresenta uma escrita presunçosa, filosófica e monótona. Perder-se na história não leva menos do que um parágrafo e não é fácil interessar-se pelos personagens. Eles são tão misteriosos e maçantes quanto o mundo em que vivem. Sendo o primeiro livro de uma série, notei que esta é uma obra que King fez, inconscientemente ou não, para si mesmo no auge de seus 19 anos. À época, ele estava impregnado de O Senhor dos Anéis, obra que foi a base e inspiração para a criação de sua própria aventura. Presumo que, conseguintemente, ele tenha voltado o foco da história mais para os leitores e menos para si, o que definitivamente é algo positivo.

Há raras partes em que alguma ação de fato ocorre. Roland cai em armadilhas deixadas ao longo do caminho pelo homem de preto. É quando ele tem que ser rápido e não vacilar no manejo das pistolas. Fica-se claro que ele é um exímio pistoleiro, um dos melhores e um dos últimos que restam no extenso e vazio mundo paralelo. Há indícios de intersecção entre nosso mundo e o de Roland, o que pode ser um fator para fazer a trama se mover e se tornar interessante. Todavia, isso não passa de especulação de minha parte. Não interessei-me a ir em busca dos próximos livros, que ficam mais e mais grossos à medida que a série vai de encontro ao seu fim. Levando isso em consideração, atenho-me a criticar o pouco que sei dos livros como um todo.

E, como é de praxe, antes que eu entregue mais desse intrincado livro ou percorra parágrafos com teorias e críticas desnecessárias (e certamente negativas), finalizo a resenha de um dos livros que mais desgostei até o presente momento. Quase que contraditoriamente, recomendo que leiam o livro e tirem suas próprias conclusões, não se deixem influenciar pelo resenhista que vos escreve.

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Conta Comigo

Título Original: Stand By Me
Ano: 1986
Duração: 89 minutos
País: Estados Unidos
Elenco: Wil Wheaton, River Phoenix, Corey Feldman, Jerry O’Connell, Kiefer Sutherland, Casey Siemaszko, Gary Riley, Bradley Gregg.
Direção: Bob Reier

Baseado no conto The Body, de Stephen King, o filme Conta Comigo conta a história de quarto jovens amigos que vivem na pacata cidade interiorana de Castle Rock, no estado de Oregon, Estados Unidos.

Gordie Lachance, agora já adulto, trabalha como escritor e narra a aventura que ele e seus amigos de infância, Chris, Teddy e Vern viveram quando ele tinha doze anos de idade. O grupo de jovens toma conhecimento do desaparecimento de um adolescente, e decide viajar em busca do corpo do jovem. Os quatro acreditam que se encontrarem o corpo desaparecido, a pequena cidade onde vivem os transformará em heróis.

Os quatro amigos, todos com personalidades fortes e alguns problemas em casa, partem em uma viagem que dura dois dias e, ao longo dessa jornada, os amigos passam por todos os tipos de provação, mostrando que devem ficar unidos o máximo possível para chegarem bem ao fim da jornada. Essa viagem funciona também como um período de auto-conhecimento para esses jovens, que acabam descobrindo seus medos, receios e alegrias, além da descoberta do valor da amizade.

Vale ressaltar também que alguns fatos da história remetem à vida do próprio autor Stephen King. A relação do protagonista com a morte do irmão mais velho, por exemplo, representa a relação que o autor teve com a morte do irmão, morto em um acidente de carro. Outro fato que possui relação com a vida pessoal de Stephen é a questão de o personagem principal ter se tornado um escritor famoso quando mais velho.

É um filme clássico, inúmeras vezes reprisado na TV durante a década de 1990, mais que vale ser assistido. O filme, indicado a vários prêmios (incluindo Oscar de Melhor Roteiro Adaptado), possui um roteiro bem feito, uma fotografia belíssima e uma trilha sonora marcante, fatores que contribuem para que esse filme se torne um clássico simples e tocante.

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O Conto da Ilha Desconhecida

Autor: José Saramago
Ano: 1998
Editora: Companhia das Letras
Nº. de páginas: 64

“Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe, Dá-me um barco”. Essas são as palavras iniciais desse conto que vem no formato de um pequeno livro, mas que possui uma grande mensagem por trás.

O Conto da Ilha Desconhecida narra a história de um homem que pede a um rei um barco para ir atrás de uma ilha desconhecida. Uma ilha que homem algum jamais pisou o pé. O homem é obstinado e, parado no batente de uma das várias portas do castelo, insiste que o rei lhe dê um barco para seguir sua viagem. Após uma arguta argumentação com o rei, o homem consegue o que quer. Ele tem seu barco, mas nunca navegou na vida. Isso não é problema para ele. Em meio a tudo isso, o homem inspira a faxineira que trabalhava no castelo do rei. Ela toma a decisão de seguir o homem e ajudá-lo nessa busca. E assim a história se desenrola em poucas e pequenas páginas com ilustrações marcando o caminho.

Para quem não é familiarizado com o autor da obra em análise, ele é José Saramago. O português nascido em Ribatejo, uma província portuguesa, em 1922, foi ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1998. Ele é considerado um dos autores mais notáveis da literatura moderna e suas obras geralmente abordam questões da condição humana. Suas histórias frequentemente se lançam como um grande “e se…?”. E se isso fosse possível? E se isso acontecesse? Como as pessoas reagiriam? Como eu agiria? E com isso ele desenvolve suas tramas bem boladas baseadas em frases perspicazes e situações inusitadas. Saramago é um autor que sabe analisar a mente humana sob uma perspectiva única.

Costumeiramente, diz-se que as obras de Saramago não encontram um meio termo no gosto das pessoas: ou você gosta, ou você não gosta. Tal assertiva é fundamentada sobre diversos motivos, porém, o mais famoso é o modelo da escrita. Pontos de interrogação? Pontos de exclamação? Ponto e vírgula? Travessões introduzindo diálogos? Saramago não se atém a isso. Ele faz uso de somente duas formas básicas de pontuação: pontos finais e vírgulas. O fluxo do texto corre solto pelas páginas e a narrativa se mistura com os pensamentos dos personagens e, às vezes, do próprio autor. Há frases longas que podem ocupar até duas páginas. Para introduzir um diálogo ele usa uma vírgula e a primeira letra maiúscula na palavra logo depois dela. De início, é muito peculiar, mas, uma vez envolvido com a história, é possível acostumar-se rápido com a escrita.

Os personagens não possuem nomes, tampouco as cidades e os países. Não há datas específicas. O rei é o rei, o homem é o homem, a faxineira é a faxineira. A história poderia se passar em qualquer época, em qualquer lugar. Isso dá margem para a imaginação trabalhar mais livremente. Pode-se imaginar como quiser, na época que desejar.

Vale ressaltar que a gramática que vige nos livros é a de Portugal (isso a pedido do autor). Muitas palavras e expressões ficam estranhas em algumas frases, até porque nós, brasileiros, não estamos acostumados com elas. As construções gramaticais, no todo, soam bem diferentes também. Contudo, tudo isso acaba sendo interessante e os dicionários estão aí para esclarecer o significado de algumas palavras. Para todas as outras não encontradas, a internet está à disposição.

O livro em questão não foge aos costumes de escrita do autor, citados acima. É válido dar uma oportunidade e apreciar o conteúdo dessas 64 páginas. A história encanta e através de uma cortina de metáforas simples e bem boladas, podemos enxergar uma mensagem, também simples, mas valiosa  e sincera. As imagens que permeiam algumas páginas ilustram a história de uma forma diferente: não é algo direto, é metafórico. É preciso ir um pouco além para achar significados às aquarelas. Eu as interpretei de uma forma, você poderia interpretar de outra e nós dois poderíamos estar certos.

Eu não poderia falar mais dessa história sem entregá-la quase que totalmente. Para evitar que tal aconteça e finalizar esta resenha, poderia acrescentar que esse livro retrata o homem. Estamos constantemente buscando alguma coisa só que geralmente não sabemos por onde começar a procurar. Esse livro mostra um homem que aprendeu o caminho em busca de seu sonho: uma ilha desconhecida.