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O Conto da Ilha Desconhecida

Autor: José Saramago
Ano: 1998
Editora: Companhia das Letras
Nº. de páginas: 64

“Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe, Dá-me um barco”. Essas são as palavras iniciais desse conto que vem no formato de um pequeno livro, mas que possui uma grande mensagem por trás.

O Conto da Ilha Desconhecida narra a história de um homem que pede a um rei um barco para ir atrás de uma ilha desconhecida. Uma ilha que homem algum jamais pisou o pé. O homem é obstinado e, parado no batente de uma das várias portas do castelo, insiste que o rei lhe dê um barco para seguir sua viagem. Após uma arguta argumentação com o rei, o homem consegue o que quer. Ele tem seu barco, mas nunca navegou na vida. Isso não é problema para ele. Em meio a tudo isso, o homem inspira a faxineira que trabalhava no castelo do rei. Ela toma a decisão de seguir o homem e ajudá-lo nessa busca. E assim a história se desenrola em poucas e pequenas páginas com ilustrações marcando o caminho.

Para quem não é familiarizado com o autor da obra em análise, ele é José Saramago. O português nascido em Ribatejo, uma província portuguesa, em 1922, foi ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1998. Ele é considerado um dos autores mais notáveis da literatura moderna e suas obras geralmente abordam questões da condição humana. Suas histórias frequentemente se lançam como um grande “e se…?”. E se isso fosse possível? E se isso acontecesse? Como as pessoas reagiriam? Como eu agiria? E com isso ele desenvolve suas tramas bem boladas baseadas em frases perspicazes e situações inusitadas. Saramago é um autor que sabe analisar a mente humana sob uma perspectiva única.

Costumeiramente, diz-se que as obras de Saramago não encontram um meio termo no gosto das pessoas: ou você gosta, ou você não gosta. Tal assertiva é fundamentada sobre diversos motivos, porém, o mais famoso é o modelo da escrita. Pontos de interrogação? Pontos de exclamação? Ponto e vírgula? Travessões introduzindo diálogos? Saramago não se atém a isso. Ele faz uso de somente duas formas básicas de pontuação: pontos finais e vírgulas. O fluxo do texto corre solto pelas páginas e a narrativa se mistura com os pensamentos dos personagens e, às vezes, do próprio autor. Há frases longas que podem ocupar até duas páginas. Para introduzir um diálogo ele usa uma vírgula e a primeira letra maiúscula na palavra logo depois dela. De início, é muito peculiar, mas, uma vez envolvido com a história, é possível acostumar-se rápido com a escrita.

Os personagens não possuem nomes, tampouco as cidades e os países. Não há datas específicas. O rei é o rei, o homem é o homem, a faxineira é a faxineira. A história poderia se passar em qualquer época, em qualquer lugar. Isso dá margem para a imaginação trabalhar mais livremente. Pode-se imaginar como quiser, na época que desejar.

Vale ressaltar que a gramática que vige nos livros é a de Portugal (isso a pedido do autor). Muitas palavras e expressões ficam estranhas em algumas frases, até porque nós, brasileiros, não estamos acostumados com elas. As construções gramaticais, no todo, soam bem diferentes também. Contudo, tudo isso acaba sendo interessante e os dicionários estão aí para esclarecer o significado de algumas palavras. Para todas as outras não encontradas, a internet está à disposição.

O livro em questão não foge aos costumes de escrita do autor, citados acima. É válido dar uma oportunidade e apreciar o conteúdo dessas 64 páginas. A história encanta e através de uma cortina de metáforas simples e bem boladas, podemos enxergar uma mensagem, também simples, mas valiosa  e sincera. As imagens que permeiam algumas páginas ilustram a história de uma forma diferente: não é algo direto, é metafórico. É preciso ir um pouco além para achar significados às aquarelas. Eu as interpretei de uma forma, você poderia interpretar de outra e nós dois poderíamos estar certos.

Eu não poderia falar mais dessa história sem entregá-la quase que totalmente. Para evitar que tal aconteça e finalizar esta resenha, poderia acrescentar que esse livro retrata o homem. Estamos constantemente buscando alguma coisa só que geralmente não sabemos por onde começar a procurar. Esse livro mostra um homem que aprendeu o caminho em busca de seu sonho: uma ilha desconhecida.

4 respostas em “O Conto da Ilha Desconhecida”

Saramago é muito bom, xD

Jeito super moderno e tradicional de escrever, tudo ao mesmo tempo.

às vezes difícil de ler – mas basta pegar a versão cinematográfica de Ensaio Sobre a Cegueira que se vê estampado nas telas o estilo absurdamente simples e complicado, tudo ao mesmo tempo, das histórias dele.

É de saramago, com certeza vale a pena, xD

Gosto bastante desse livro. Eu o li para um trabalho da faculdade, mas acabei me apaixonando. Tinha que ilustrar o livro, acredita? Mas foi super gostoso ler e ilustrá-lo. Fiz uma coisa bem experimental com palitos de fóforos, folhas e conchas de marisco. Hehe.

Foi o primeiro texto que eu li do Saramago e realmente se estranha a maneira peculiar dele construir os textos no início. Mas isso passa rapidinho. O livro é maravilhoso.

Ah, e adorei a resenha.

Abraço.

É mesmo estranho isso de não pontuar as frases de forma usual. Mas quando não complica muito o entendimento, eu até gosto, parece mesmo que flui melhor, leio mais rápido, e não dá vontade de parar @_@
E não é a mesma coisa falar de uma resenha sem ter lido o livro sobre o qual ela se refere, mas tá muito bem escrito, mesmo. E fiquei com vontade de ler também ahsoue o/

“o livro sobre o qual ela se refere”
Ficou estranho isso ahauoshe enfim.

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