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O Mágico de Oz – 70 Anos de Magia

Título Original: The Wizard of Oz
País/Ano: USA, 1939
Duração: 101min
Gênero: Clássico, Infantil.
Roteiro: Noel Langley e Florence Ryerson.  L.Frank Baum (livro em que o filme foi baseado)
Direção: Victor Fleming
Elenco: Judy Garland, Ray Bolger, Jack Haley, Bert Lahr, Frank Morgan, Margaret Hamilton, Mary Burke.

No ano de 1900, L. Frank Baum publicava o primeiro de uma série de catorze livros: The Wonderful Wizard of Oz, que contava com uma tiragem inicial de apenas 2.000 exemplares, número de vendas esperado para o primeiro ano disponível nas lojas. Entretanto, o livro fez um sucesso incrível. Aclamado pela crítica, já passava dos 25.000 exemplares vendidos em dois meses. E não era um número nada pequeno naquela época.

Desde o lançamento do livro, O Mágico de Oz já foi adaptado para as telonas mais de 30 vezes, sem contar nas adaptações para o teatro. Em 1902, Baum, que também era ator, já havia criado uma peça teatral baseada no livro. Quatro anos depois o primeiro filme The Fairylogue and Radio-Plays estreava. Pode-se perceber, com isso, que O Mágico de Oz fez um sucesso estrondoso na época. O autor, Frank Baum, morreu em 1919 sem dar um desfecho para a história, o que ocasionou várias outras continuações escritas por outros autores ao longo da história. Em 1939, trinta e sete anos depois da primeira adaptação cinematográfica e vinte depois da morte do autor, o mais conhecido filme sobre a história de Dorothy chegava aos cinemas: The Wizard of Oz, vencedor de dois prêmios da Academia – melhor canção original e melhor trilha sonora.

The Wizard of Oz conta a história de Dorothy Gale (interpretada por Judy Garland), uma garota que vive no Kansas e acaba sendo levada para a Terra de Oz acidentalmente por um ciclone. Sua casa cai em cima da Bruxa Má do Leste, e logo ela ganha a antipatia da irmã da bruxa morta, a Bruxa Má do Oeste. Dorothy sai em busca do Mágico de Oz, na Cidade de Esmeraldas, o único que segundo Glinda (Billie Burke) pode ajudá-la. Pode parecer um enredo infantil, e para este público foi direcionado o livro.  Mas se analisado simbolicamente, a história conta com uma crítica a sociedade da época (assim como fez Jonathan Swift com o seu brilhante As Viagens de Gulliver) e ao Partido Republicano dos Estados Unidos. É claro que o autor nunca disse nada sobre o assunto, e as especulações somente começaram a surgir depois da sua morte, então nada foi provado.

No mesmo ano em que dirigiu The Wizard of Oz , Victor Fleming dirigiu o extremamente longo Gone With the Wind e ganhou dez prêmios do Oscar com ele. Dois filmes históricos, cinematograficamente falando, no mesmo ano, e treze prêmios da Academia, somando os que os dois longas ganharam. Victor Fleming passava longe de ser um diretor principiante.  Fleming tinha uma habilidade e um senso para direção incrível. Também dirigiu incrivelmente Captains Corageous e Around The World in 80 days. Na obra em questão, o diretor deu atenção à detalhes que fizeram toda a diferença. Os sapatos de Dorothy, por exemplo. Eram prateados, de acordo com Baum. Fleming tornou-os vermelhos para acentuar a percepção do uso de Technicolor e a magia do filme, o que funcionou perfeitamente bem. O uso dos efeitos especiais também estava muito bom, para um filme de setenta anos atrás. A cena em que o ciclone surge no Kansas é digna de congratulações. É claro que não é nada muito realista, como o fundo dos cenários – o filme foi todo gravado em estúdios, portanto eles são pintados. Ou aquele “campo de força” dos sapatos de rubi, que surge quando a Bruxa tenta tocá-los. Entretanto ainda é melhor do que os efeitos de muitos filmes produzidos ultimamente (claro, eu me refiro à produções que vão apenas para a televisão, por exemplo. Ou alguns filmes nacionais).

É realmente complicado criticar um clássico de cinema. Quero dizer, há realmente o que criticar? Eles são maravilhosos, por isso são clássicos. Quantos milhares de filmes já foram gravados e apenas alguns ficam na história – ficam na memória da humanidade por décadas. Ao lado de muitos outros, O Mágico de Oz com certeza é um deles.  Em forma de homenagem e comemoração ao seu septuagésimo aniversário, a Warner Home Video disponibilizou para a compra uma Edição Comemorativa contendo materiais inéditos e vários extras distribuídos em quatro DVDs ,ou no caso dos Blu-Rays, dois (também fora disponibilizado a Edição de E o Vento Levou, que, como citado aqui, foi gravado pelo mesmo diretor no mesmo ano).

A Edição Comemorativa vem em embalagem DigiBook e acompanha um livro com 52 páginas de informações extras sobre os atores, produção do filme ou apenas fotos. A qualidade do produto é realmente ótima – se você é colecionador ainda não tem a sua cópia, vá direto até a loja mais próxima. A Edição Comemorativa é limitada, e já foi lançada há alguns meses. Aposto que você não vai querer perdê-la. A seguir uma lista com todas as mais de 16 horas de extras do produto:

O Maravilhoso Livro, o Mágico de Oz. – espécie de documentário falando sobre como L.F.Baum escreveu  livro.
Mais Lindo do Que Nunca: A Restauração de Oz –  sobre como o filme foi restaurado, usando técnicas modernas.
Acho que ainda não fomos apresentados… – sobre cada ator do filme em si, falando sobre seus filmes e carreira.
Escolha um Música – bom, o título fala por si só, você pode escolher alguma música do filme e ouví-la.
O Maravilhoso Mágico de Oz: Making Of de um clássico de cinema – sobre a produção do filme
O Homem por trás da Cortina: L.Frank Baum – documentário sobre a vida do autor.
Hollywood celebra suas Pequenas Grandes Estrelas – entrevistas com os atores ainda vivos que interpretaram os Munchkins no filme, que ganharam estrelas na Calçada da Fama na época.

Cenas Excluídas e Eliminadas, Os Vídeos Caseiros de Harold Arlen, A Arte da Imaginação, It’s a Twister, It’s a Twister! Testes para o Furacão, Victor Fleming, o Mestre da Criação também estão entre os extras. Há, além deles, filmes mudos lançados antes de The Wizard of Oz, como O Maravilhoso Mágico de Oz de 1910, Sua Majestade, o Espantalho(1914), A Garota dos Retalhos de Oz (1914) e filmes modernos como The Dreamer of Oz (1990), que em uma produção encantadora conta a vida de L.Frank Baum e como escreveu sua mais bem-sucedida obra.

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Julie & Julia – de comédia não tem nada.

Título Original: Julie & Julia
País/Ano: USA, 2009
Duração: 123min
Gênero: Comédia
Roteiro/Direção: Nora Ephron (adaptação e direção), Julie Powell (Julie & Julia), Julia Child e Alex Prud’Homme (My Life in France)
Elenco:
Meryl Streep, Amy Adams, Stanley Tucci, Chris Messina, Linda Emond, Jane Lynch.

Comédias nunca me agradaram. Talvez porque das existentes, ou elas trazem um humor baixo que se torna irritante ou um humor coerente que dificilmente é o suficiente para nos fazer rir. Ou talvez seja algum problema comigo, já me peguei várias vezes em silêncio com todo o resto da sala de cinema rindo. Mas, de qualquer jeito, a comédia de Julie & Julia chega longe de ser engraçada.

Realmente, eu me pergunto o porque do filme ter sido classificado no gênero comédia. As únicas risadas que conseguiram me arrancar foram quando Julie tenta rechear um frango e ele se espatifa no chão, e algumas outras que nem por roteiro foram, mas sim pelas expressões de Meryl Streep no papel de Julia.

Na verdade, é Julia que se torna realmente interessante durante o filme. A história gira em torno de duas personagens, Julie Powell e Julia Child. Child, que inicia um curso culinário renomado e um livro de receitas e Powell, cinqüenta anos depois, que estabelece uma meta para si mesma: fazer todas as receitas contidas no livro da Julia, Mastering The Art of French Cooking, em um ano. Enquanto Julie se mostra uma personagem insossa, que só não chega a um extremo porque te entretém com receitas e dificuldades para fazê-las e alguns contratempos ou novidades de sua vida, é Julia que rouba a cena. Agraciada com uma maravilhosa atuação de Meryl Streep, é claro, a história da personagem é muito mais interessante do que a da outra. Os problemas com a criação do livro, conflitos entre as três escritoras, o progresso no curso e até mesmo a atriz contribuem para que Julia Child seja melhor que Julie Powell.

Não que o problema seja Amy Adams, que interpreta Julie. Pelo contrário, Adams vem se mostrando uma grande atriz e desde o início de sua carreira cinematográfica, em 1999, já recebeu duas indicações ao Oscar. Apenas teve o infortúnio de ficar com uma personagem não muito satisfatória. Além dessas duas grandes atrizes, o filme conta com a presença de Stanley Tucci (Um Olhar do Paraíso, O Diabo Veste Prada) no papel do marido de Child, Paul, e da não tão famosa, mas ótima Jane Lynch (Outro Conto da Nova Cinderela), como a irmã de Julia, Dorothy.

Mas o filme não é ruim em todos os pontos. Na trilha sonora, por exemplo, consegue ir espetacularmente bem. Contando com músicas como A Bushel and a Peck (Doris Day), Le Festin (Camille – também presente em Ratatouille) e Time Aftes Time (Margaret Whiting) encerrando, consegue conquistar só pelas músicas, que se adaptam tão bem ao filme quando Meryl Streep. O restante da trilha sonora foi composta por Alexandre Desplat, que também foi contratado para fazer a da Relíquias da Morte – Parte 1. Se ele repetir a dose em Harry Potter, não teremos motivo para decepção.

Além da trilha sonora, o filme também agradou em outros quesitos. A diretora, que não é muito experiente, também escreveu o roteiro, e conseguiu ir tão bem quanto fora em A Feiticeira em 2005. Adaptou dois livros diferentes – Julie & Julia e My Life in France – perfeitamente em uma obra só, e mesmo sem ter lido ambos posso dizer que Ephron fez um ótimo trabalho, tendo o filme ficado diferente dos livros ou não.

Lembrando de uma coisa: se você estiver pagando alguma promessa de ficar meses sem doces, estiver no meio de uma dieta rigorosa ou com uma fome enorme e sem nada na geladeira, não veja o filme. A quantidade de comida entre as cenas é tão grande que te dará água na boca e uma vontade insaciável de comer boeuf bourguignon. Julie & Julie é baseado em duas histórias reais, uma da mulher que ensinou a América a cozinhar e a outra de uma mulher frustrada na vida que tenta seguir seus passos. Se quiser dar uma olhada no blog original escrito por Julie Powell em 2004, confira aqui, em inglês. Só mais uma coisa a dizer: Bon Appetit!

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Dúvida

Título Original: Doubt
Ano de Lançamento: 2009
Direção: John Patrick Shanley
Roteiro: John Patrick Shanley
Elenco: Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams
Duração: 104 minutos
País de Origem: EUA

Existem alguns atores e atrizes em quem eu confio cegamente, como Kate Winslet, Sean Penn, Glória Pires (vide a crítica de Lula, O Filho do Brasil), e alguns outros. Tais indivíduos tem o poder de me fazer esgueirar por qualquer cinema, sala de estar, bingo, quarto ou chão que me permitam presenciar sua atuação. Em absolutamente qualquer trabalho, essas pessoas conseguem cativar (de novo, vide a crítica de Lula).

E aí, no topo de todos esses (junto com Fernanda Montenegro, mas isso é outra história), está Meryl Streep. Mesmo no muito mais ou menos Julie e Julia, ou no péssimo Mamma Mia!, Meryl rouba a cena em absolutamente todos os momentos em que aparece. Em números, é indicada ao Oscar, muito merecidamente, por aproximadamente 37% dos seus trabalhos e esse ano conseguiu ganhar de si mesma no Globo de Ouro: foi indicada duas vezes na mesma categoria.

Então, eu comecei a ver Dúvida sabendo que, mesmo que não gostasse do filme, a oportunidade de ver Meryl atuando, por si só, pagaria o “tempo perdido” – e, devo dizer, que delícia que é quando esse pensamento se transformou no “Uau!” que eu carreguei quando o filme acabou. Não é um só filme bom: é um filme espetacularmente trabalhado, em cada um dos atores e seus personagens, em cada uma das muitas de suas nuances.

O filme se passa numa escola católica da qual a freira interpretada por Streep é a diretora. Inicialmente, três imagens são construídas: a da Irmã Alouysius Beauvier, diretora, extremamente rígida e tradicional, que defende o respeito incondicional que os estudantes tem de ter pelas professoras-freiras (mesmo que, como a própria personagem ressalta, esse respeito seja fundado no medo); o Padre Brendan Flynn (Philip Seymour Hoffman, também ótimo), um dos padres da cúpula da escola, à qual responde a Irmã Beauvier, em nome do grupo de freiras, um homem bondoso, que prefere criar amizades com seus alunos à aterrorizá-los, que defende que a escola deveria adequar-se a ideais mais liberais; e a Irmã James, apenas uma discípula da diretora, muito calma, boa, idealista, que fica dividida entre os ideais da Irmã e do Padre.

E aí o filme traz uma cidade de 1964, onde escolas católicas rígidas ainda eram muitíssimo respeitadas, mas exatamente a época, bem traduzida pelo conflito dos dois personagens principais, em que a sociedade começava a questionar o tradicionalismo, e põe em cheque a credibilidade de tudo aquilo.

Quando o roteiro se estabelece, aparece o perturbador da paz, o aluno negro Donald Miller. Veja bem, no contexto da época, um aluno negro (o primeiro da escola), era um grande atrevimento da diretora. Brancos não gostavam de negros, e ponto. Existia a previsão de que ele não se adaptaria. Não faria amigos. Se envolveria em brigas, seria um saco de pancadas. Então há a instrução para que irmã James, professora do menino, mantenha um olho nele.

Sabe-se que o Padre Flynn protege o menino de seus colegas, e um dia, ele o chama à sua sala durante a aula e o menino volta com hálito alcoólico. No dia seguinte, a professora vê o padre colocar uma camisa dentro do armário de Donald, discretamente.

Não existem provas. Não existem testemunhas. A Irmã Alouysius Beauvier, porém, tem certeza de que o menino está sendo abusado. E ela não tem receio de enfrentá-lo.

Questionando não só valores religiosos e morais, mas também coisas como a impunidade com que a cúpula católica cobre seus padres criminosos, mulheres que resolvem afirmar-se como seres pensantes, questões raciais e, enfim, muitas dessas questões que ainda enfrentamos hoje, o filme provoca de toda maneira possível. A conversa da diretora com a mãe do aluno provavelmente abusado ilustra isso – e é uma das melhores cenas do filme. E se o menino gostar do homem? E se for a única opção dele? E se ele for o único que é bom para o menino?

E você olha para aquela mãe, e não há como discutir com aquilo. Não é mais válido achar que o padre, se tiver feito o que se supõe que fez, está errado, do que achar que a mãe dele está certa, e que todo o império de certeza da irmã não faz muito sentido além de machucar e desorganizar o mundo daquelas pessoas.

Mas fica difícil descartar o fato de que o menino é só um menino, mesmo negro e pobre numa sociedade em que nenhuma das duas classes é minimamente respeitada; mesmo em 1964, o menino é só um menino. E se a irmã, mulher e freira, numa sociedade em que não se permite que nenhuma das duas classes levante uma palavra contra o homem superior, pode peitar essa autoridade e buscar justiça, por que a situação do menino não pode ser diferente?

E se o padre realmente for só amigo do garoto?

Não dá pra aceitar essa dúvida. Principalmente porque fazemos – o filme provoca isso – uma analogia com o presente, os nossos dias. E, nossa, não muda muita coisa: a igreja protege praticamente todos os padres pedófilos, estupradores, criminosos mesmo; as freiras servem apenas para dar bons exemplos, não tem voz; os negros não são mais bem respeitados e muita gente prefere não denunciar abusos quando ele vem acompanhado de algum ‘bem’.

Bem, a única coisa de que não tenho dúvida é de que esse filme é maravilhoso, cheio de grandes atuações e grandes sacadas, e que vale muito a pena.

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R.E.M Live at The Olympia in Dublin

Gravadora: Warner Bros
Gênero: Rock Alternativo
Lançamento: 27 de Outubro de 2009
Produtor: Jacknife Lee

R.E.M, não estou me referindo ao estágio do sono, ainda que o nome da banda seja referência a isso . Em 1980 Michael Stipe, Peter Buck, Mike Mills e Bill Berry davam forma a banda que seria um dos maiores sucessos da década de 80. Como a maioria das bandas eles começaram tocando em bares, restaurantes e festas. Porém foi em 1982 que o R.E.M começou a ter uma boa aceitação com o EP “Chronic Town” e apenas um ano depois o primeiro álbum deles, “Murmur”, foi eleito Álbum do Ano. Essa história pode não lhe ser familiar, mas a música “Losing My Religion” de alguma forma você já ouviu falar.  Além de ser parte do álbum de maior sucesso da banda, ainda faturou dois Grammy Awards.

Apesar de ser uma banda de grandes hits o seu último lançamento não trás seus sucessos.  “R.E.M Live at the Olympia in Dublin” é o CD duplo que acompanha o DVD “This is Not a Show “ (não disponível no Brasil). O CD contém ensaios gravados durante cinco noites em Dublin diante de grandes platéias. Porém o diferencial não é o fato de ser uma gravação de ensaios, mas que a grande maioria das músicas apresentadas são aquelas não tão famosas da banda sem contar as que ainda estavam sendo desenvolvidas pro próximo álbum, “Accelerate”, que na época ainda não havia sido lançado.

Ao mesmo tempo em que o diferencial do CD é o fato de se ter versões ao vivo de músicas não tão freqüentes nos shows, isso acaba se tornando um fator negativo.  Você passa o tempo todo esperando por aquele grande momento onde a banda apresenta seus grandes sucessos e o público vibra cantando junto, mas esse momento não chega. Eu curti o álbum por que já gostava do R.E.M não importando que tipo de músicas eles estão tocando, mas pra quem não é fã se decepciona um pouco.

Quando eu ganhei o CD fiquei super animada, afinal é o R.E.M não teria como eu não gostar, de fato eu gostei mas faltou o algo a mais que nós geralmente procuramos. Quando você chega ao fim do álbum você se pergunta cadê “Shinny Happy People”, “Man On The Moon”, ”Imitation Of Life” e principalmente “Losing My Religion”? Aquelas que são o abre alas deles.

Entretanto é inegável o quanto difícil é para uma banda lançar um álbum de não inéditas e ainda por cima composto em grande parte pelas músicas mais excluídas, digamos assim, da sua longa carreira e conseguir mostrar quem eles são. Não é pra qualquer um e sem dúvida o R.E.M tem potencial pra isso.

Por mais que eu adore o R.E.M e me empolgue com todos os trabalhos deles eu tenho que dizer que se você não conhece a banda direito o “Live at the Olympia in Dublin” não é uma boa pedida. O CD deixa a desejar e não mostra o que eles têm de melhor. Porem se você quer conhecer eles de verdade nada como ouvir “Out Of Time” e “Automatic For The People”.

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The Killers – Live From The Royal Albert Hall

O primeiro registro em DVD e Blu-Ray de uma apresentação ao vivo da banda norte americana The Killers chegou às lojas brasileiras no início do mês de dezembro, acompanhado por um CD, também ao vivo.

A banda, criada em 2003 em Las Vegas, ficou conhecida mundialmente em 2004, quando o sucesso Somebody Told Me foi uma das músicas mais executadas naquele ano.

O show, gravado nos dias 5 e 6 de julho de 2009, na lendária casa de shows londrina Royal Albert Hall, apresenta um repertório semelhante ao que a banda tocou no show feito em sua última passagem pelo Brasil, em novembro de 2009.

A apresentação conta com 26 músicas dos três álbuns da banda, e contou com seus maiores sucesso: Mr. Brightside, Smile Like You Mean It, Bones e Spaceman.

Talvez o grande diferencial desse show seja a proximidade entre banda e público, fazendo desse um show mais . O palco é pequeno, assim como a casa de show escolhida para gravação. Em alguns momentos da performance, o enérgico vocalista Brandon Flowers chega a cantar em meio aos fãs, tamanha proximidade do público com os artistas.

O DVD traz como extra um pequeno e intimista documentário, com depoimentos de fãs, da equipe da banda e dos próprios integrantes acerca da gravação desse show. Cinco apresentações da banda em festivais musicais e um pequeno vídeo mostrando a visão que os fãs têm do show também estão presentes como bônus.

Abaixo, o vídeo da música Human, que inicia o show:

Pra quem é fã ou pra quem deseja conhecer melhor o trabalho do The Killers, o DVD é um prato cheio, com uma performance arrebatadora da banda.

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Ligeiramente Grávidos

Direção: Judd Apatow
Elenco: Seth Rogen, Katherine Heigl, Paul Rudd, Debbie Mann
Ano: 2007
Duração: 129 min

Confesso que a minha única motivação para assistir ao tal do Knocked Up foi a perspectiva de ver Katherine Heigl fora de Grey’s Anatomy e Paul Rudd fora de Friends. De maneira alguma eu esperava que o filme fosse além de entretenimento leve e apelativo – não que o enredo não seja um clichê das comédias românticas, ou que a atuação de Katherine passe de mais ou menos, mas…

O filme tem como base a relação dessas duas pessoas (Heigl como Alison Scott e Rogen como Bem Stone) completamente diferentes – ela, uma apresentadora de TV, num canal de entretenimento, independente e séria; ele, um desocupado que vive do dinheiro da indenização que recebeu ao ser atropelado alguns anos antes, morando numa república com um monte de amigos, fumando maconha, enquanto montam um site cuja premissa é dizer que atrizes ficam nuas (total ou parcialmente) em quais momentos de que filmes. Pessoas que não teriam nada em comum e muito provavelmente nem passariam tanto tempo juntos, não fosse uma noite bêbada e uma gravidez.

A personagem de Katherine, vendida como ‘a responsável’ do casal, não tem atrativos além da beleza. Não tem mais inteligência ou sensatez que o normal, então não se difere muito de nenhuma das personagens femininas de comédias românticas. Em alguns momentos, na verdade, ela toma decisões bem burras (uma das duas coisas que me deixaram muito incomodada no filme: que a protagonista realmente acredite que pode ser demitida se revelar aos seus chefes que está grávida – afinal, mesmo que você seja apresentadora de TV, existe algum tipo de lei sobre não demitir uma mulher grávida por causa de suas gravidez e de lhe dar algum tempo de férias remuneradas assim que o bebê nasce; algo como licença à maternidade, não?); então, não, ela não é o personagem a se destacar aqui.

O nível dos diálogos se mantém alto, algo praticamente impossível de se encontrar em comédias em geral. O mais memorável nessa importância dos diálogos é que Apatow (de O Virgem de 40 Anos) se vale muito daquela máxima das aparências que enganam: então tem Seth Rogen. Perfeito no papel do bobão que nunca fez nada importante na vida, mas que acaba tendo mais noção de responsabilidade que qualquer outro no filme. Articulado e sensível, exceto pelos momentos chapados (que incluem a noite em que engravidou a protagonista), o personagem é quem nos puxa para dentro da história, é quem reúne as cenas mais marcantes em torno de si.

Daí se destacam a trupe de amigos de sua República, que tem mais ou menos o mesmo perfil de desocupados sem dinheiro empenhados na construção do site pornô, que acabam, junto com o marido infeliz da irmã da protagonista, sendo o ponto de conflito: para Alison, eles e suas incompetências refletem a verdadeira personalidade de Bem, o que mostra que ele não está (como seus amigos) e provavelmente nunca estará (como seu cunhado) pronto para ser pai, marido e família de alguém (mais uma prova de que a protagonista não tinha muito bom senso, porque o tempo todo ele se mostra muito mais animado e preparado do que ela, de longe).

O momento ‘decisivo’ do filme, quando ele mostra que realmente tem algo a dizer sobre a humanidade e o amor (haha) é quando a irmã quase-tão-insuportável-quanto-a-protagonista Debbie (Leslie Mann) descobre que o marido, Pete (Paul Rudd), mentia dizendo que tinha que trabalhar até tarde quando na verdade ia jogar “Fantasy baseball” com os amigos: é quando o casal grávido, já bem irritado um com outro com todas as coisas que casais grávidos tem de fazer e lidar, se divide para defender os idéias um de Debbie (ela) e um de Pete (ele), e, entre brigas no carro, livros sobre bebês, e uma viagem a Las Vegas com cogumelos alucinógenos, temos as discussões mais relevantes do filme.

Em alguns momentos, a piada do “sexo, drogas e rock’n’roll” se excede um pouco (como na cena estúpida da conjuntivite), e existem muitas cenas absolutamente sem propósito no meio do caminho, algumas personagens extremas demais – não passa, no fim, de uma comédia romântica, portanto todos os casais ficam juntos e felizes no fim; mas o filme vai um pouquinho além de montar casais felizes. É muito mais verossímil que isso.

É um entretenimento leve com um pouco mais de qualidade que o normal. Recomendo.

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UP – Altas Aventuras

Título Original: Up
País de Origem: EUA
Ano de Produção: 2009
Duração: 96 min
Gênero: Aventura / Animação
Direção: Pete Docter, Bob Peterson
Roteiro: Pete Docter, Bob Peterson, Thomas McCarthy
Elenco: Edward Asner, Christopher Plummer, Jordan Nagai, Bob Peterson, Delroy Lindo, John Ratzenberger

Primeiramente posso dizer que por ser um filme Pixar, não esperava nada menos do que esse filme foi… Quando uma amiga minha perguntou que filme era esse antes de nós entrarmos no cinema, eu disse:

– É da Pixar…

Aí ela disse:

– Sim! Mas que filme é esse?

E eu respondi:

É DA PIXAR! Preciso dizer algo mais que isso?

E é exatamente isso que acontece. Os filmes da Pixar são os únicos filmes que vou para o cinema com a certeza de que vou sair satisfeito. Seus criadores, na minha humilde opinião, são os mais geniais do cinema moderno, pois a cada filme que eles fazem, eles se superam e criam coisas cada vez mais novas e inusitadas. E o inusitado está o tempo todo presente nesse filme, dirigido por Pete Docter e Bob Peterson (Os mesmos diretores de Monstros S.A.).

Se visualmente falando os críticos do mundo todo estavam esnobando da Pixar por criar um protagonista velho e ranzinza, dizendo que não venderia nem atrairia público, eles conseguiram transformar esse velho ranzinza em um dos personagens mais bonitos, simpáticos, tocantes e marcantes da história dos 10 filmes da empresa. Sua história é muito triste e ao mesmo tempo bela. Não há como explicar o que eu senti nos primeiros minutos do filme, quando é contada toda a história de vida de Carl Fredricksen (o tal velinho) sem nenhuma fala. Não porque não tinha o que falar, mas por não ter necessidade disso! As imagens pareciam ter fala, e foi genial como conseguiram contar a vida de uma pessoa de uma forma tão simples e ao mesmo tempo impactante. Não tinha dado nem 10 minutos de filme e já estava me sentindo triste por Carl. Pois enfim, a trama se desenvolve e somos apresentados à Russel, pequeno desbravador da natureza com apenas 8 anos que resolve ajudar Carl de alguma forma para conseguir um broche de ajuda ao idoso. Se a primeira imagem que você tem de Russel é que ele é apenas a criança engraçada e irritante da história, mais tarde também nos surpreendemos ao ver que até Russel tem mágoas e tristeza em sua vida. Mas voltando ao início, para fugir da obrigação de ir para um asilo, Carl faz sua casa voar atráves de balões de hélio, mas acaba levando Russel junto. O destino? América do Sul! Rumo ao Paraíso das Cachoeiras, uma terra perdida no tempo. A viagem dos sonhos dele e da falecida mulher, Ellie representada o filme todo pela casa em si. Carl em vários momentos conversa com a casa como se a esposa estivesse realmente presente. Pois enfim, a partir do momento que a viagem inicia, a trama começa a se desenvolver e só assistindo para ver o desfecho…

Quanto à comédia, é brilhantemente mesclada com o forte tom de drama da história na figura, não só de Russel, mas de Doug, o cachorro falante (ESQUILO!) e de Kevin, uma ave desconhecida que Russel encontra, acaba adotando e que ganha, no meio do filme, um papel muito importante na trama. A ação é constante durante toda a viagem até a America do Sul, e, nos cinemas, essa ação ainda tinha como atrativo o 3D que, apesar de não apresentar muitos objetos saltando para fora da tela, proporcionava uma enorme sensação de profundidade. Nas cenas em que personagens ficam pendurados a muitos metros de altura, tinhamos a sensação de que nós podíamos cair a qualquer momento junto com eles. Claro que, em DVD a diversão não é menor. Mas quem sabe em breve, com essas novas TV’s 3D nós não poderemos ver o filme nesse formato no conforto de casa? É uma grande possibilidade!

Quanto à mensagem do filme. Na minha opinião foi umas das mais bonitas até agora entre todos os filmes da Pixar, empatando principalmente com Procurando Nemo que também me marcou muito. Mas acho que o lado dramático da história ajuda a fazer a mensagem desse filme muito mais profunda do que o amor de um pai com um filho, pois o filme fala da vida, de sonhos, de frustrações, de amor, de amizade, de família. Coisas que, creio eu, estão presentes na vida de todos, principalmene na minha. Não foi surpresa quando eu me vi chorando como um bebê na cena em que Carl abre o álbum/diário da mulher e revê toda a sua vida. Me fez olhar a minha vida com outros olhos… E no final, mais uma vez chorei ao ver a amizade de avô e neto que Carl desenvolve com Russel, e que me emocionou muito. Essa foi a primeira vez que chorei em um filme Pixar!

Há coisas que não precisam ser ditas. E esse filme é a prova disso. A profundidade da mensagem da trama vai além do que é mostrado no filme. Qualquer pessoa consegue se identificar com os personagens e realmente acho esse o maior trunfo da Pixar. Todos os seus filmes são para nos passar algo de bom, de positivo, de bonito. Se você ainda não viu esse filme, eu ordeno (sim, isso é uma ordem) que você levante agora de onde quer que esteja sentado e vá procurar o DVD na loja ou locadora mais próxima, já que ele já saiu do cinema. Quando vi no cinema, fiquei alguns dias eufórico com tudo que UP trouxe pra mim em termos de emoção e deslumbramento quanto à qualidade da animação. Mesmo depois de ver várias vezes em casa, ainda me sinto como se estivesse vendo pela primeira vez. E fica a pergunta: Como é possível que a Pixar se supere mais uma vez agora? Esse ano chega Toy Story 3 aos cinemas, e depois Carros 2. Vai demorar um pouco para que tenhamos mais um filme com personagens e tramas novas, mas com certeza, essas continuações serão ainda melhores que os primeiros. Afinal, estamos falando da Pixar, dos seus gênios e de seu irresitível poder de atrair qualquer um para mundos onde aventuras, como UP, se tornam muito mais que aventuras…

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Mau Começo

Subtítulo: Desventuras em Série (vol. 1)
Autor: Lemony Snicket
Tradutor: Carlos Sussekind
Ano: 2001
Editora: Companhia das Letras
Nº. de páginas: 148

Esta é uma resenha muito desagradável, pois vai tratar de um livro muito desprezível.

Para todos aqueles que acompanharam a série, ou leram algum dos treze livros dela, os adjetivos negativos e os infortúnios que afloram as páginas de Desventuras em Série não são novidades. Talvez a princípio, mas cedo ou tarde nos acostumamos com a má sorte que insiste em pairar sobre a cabeça dos irmãos Violet, Klaus e Sunny Baudelaire. Os três passam por maus bocados e entram em becos aparentemente sem saída enquanto o vilão, o temível Conde Olaf, mexe suas cordinhas e faz de tudo para tornar a vida deles um inferno.

Violet é a mais velha dos três com 14 anos; ela tem um talento nato para criar as mais diversas invenções. Quando ela amarra seu cabelo com uma fita para mantê-lo fora dos olhos seu cérebro funciona como engrenagens trabalhando em perfeita ordem. Klaus é o irmão do meio e tem 11 anos; o que ele mais gosta de fazer é ler. Já leu grande parte do acervo da imensa biblioteca da Mansão Baudelaire. Por fim, vem Sunny, que é apenas um bebê; seu passatempo favorito é morder coisas resistentes com seus quatro dentes afiados. Ela se comunica na língua dos bebês e, para que outras pessoas possam entendê-la, é necessário ter um dos seus irmãos por perto para traduzir. Esse é o perfil das personagens principais. Os talentos de cada um funcionam como um deux ex machina naquelas situações onde tudo parece estar perdido.

As desventuras dos irmãos Baudelaire começam com um incêndio que destrói sua mansão e leva a vida de seus pais. Um banqueiro e amigo da família chega para dar as más notícias para eles, que estavam numa praia na hora do incidente. Como crianças normais, os três ficam abalados e chegam até a pensar que tudo não passa de uma brincadeira de mau gosto. Infelizmente, Violet, Klaus e Sunny ficam órfãos e tornam-se herdeiros da grande fortuna deixada por seus pais. O banqueiro é responsável por tomar conta dessa fortuna até que Violet atinja a maioridade e possa administrar por conta própria o dinheiro, entretanto, os órfãos terão que morar com um tio distante no meio tempo. E é nesse momento que as vidas deles começam a ficar mais desagradáveis.

Conde Olaf é um homem alto e magro e de uma sobrancelha só. Ele é líder de uma trupe de artistas que representam peças de teatro. Ele vive numa casa fantasmagórica e repugnante: o novo lar dos irmãos Baudelaire. Olaf trabalha com afinco em prol da permanência da infelicidade na vida dos órfãos, além de criar planos malévolos para se apossar da fortuna. Acho que já falei demais da história, não?

Visivelmente, Desventuras em Série é destinada ao público infantil. O autor usa uma linguagem simples e engraçada para desenvolver suas histórias; em alguns pontos ele emprega palavras e expressões não tão corriqueiras, mas, logo em seguida, descreve seus significados. É uma forma interessante de se aumentar o vocabulário do leitor sem que este tenha que recorrer ao dicionário. E convenhamos que crianças não costumam ser fãs de dicionários, a não ser que a criança em questão seja Klaus Baudelaire. As ilustrações geralmente vêm nos começos dos capítulos e dão uma pista do que pode acontecer dali até o começo do próximo capítulo. São ilustrações interessantes e muito bem trabalhadas.

Não é por ser voltado para o público infantil que os adultos deixariam de ler essa série tão desagradável. O que quero ressaltar neste parágrafo é a ignorância que existe na mente de alguns pais que chegam a proibir seus filhos de ler os livros de Desventuras em Série. As crianças são maltratadas na história e o vilão é implacável e não tem dó das três crianças indefesas que ele trata com tanto escárnio. Além disso, a maioria dos adultos na história é representada como pessoas más ou pessoas boas e totalmente manipuláveis. Esse é o teor da história: infortúnio na vida de três crianças órfãs. O autor interage com o leitor em diversas páginas declarando que, todo aquele que não gosta de história com finais tristes e trágicos deveria fechar o livro e ler um conto de fadas. E o mais engraçado é que é verdade. Entretanto, pode-se ver Desventuras em Série como uma história interessante, cheia de mistérios e bem educativa. Os pais deveriam saber educar seus filhos e guiá-los enquanto leem os livros da série. As crianças são espertas e sabem diferenciar o certo do errado até melhor do que muitos adultos. Desventuras em Série reforça esse ponto essencial que deve fazer parte da personalidade das pessoas ao mostrar que, mesmo cercados por gente má ou que não vá ajudá-los, os irmãos não se deixam influenciar e não se vingam. Elas não se tornam vis e estão sempre trabalhando em equipe, reforçando o espírito de união familiar apesar das complicações. São esses os pontos que muitos pais não vêm ou não querem ver.

Por mais que os órfãos Baudelaire sofram, é possível passar bons (porém, breves) momentos com eles e acompanhá-los nas várias situações difíceis onde eles devem unir forças e conhecimentos para derrotar os planos de Olaf. Os irmãos são inteligentes e muito educados e buscam, apenas, um final feliz. Mau Começo acaba sendo um bom começo para essa série tão perspicaz. Alguns dos livros posteriores são ligeiramente maçantes e repetitivos quanto ao desenrolar da história, como se eles fossem seguir determinado padrão até o fim. Porém, como numa súbita guinada, mistérios surgem e tudo vai ficando mais e mais interessante. Situada num universo muito parecido com a Inglaterra dos anos 30, essa história é encantadora e, sinto dizer… muito, muito, muito desagradável.

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O Solista

Título Original: The Soloist
Ano: 2009
Direção: Joe Wright
Escritores: Steve Lopez, Susannah Grant
Elenco: Jamie Fox, Robert Downey Jr, Catherine Keener
País: Inglaterra

Pra começar quero dizer que não sou muito fã de grandes dramas e grandes histórias de vida a exemplo de “A procura da Felicidade” e “Sete vidas” que apesar de uma história bonita achei parado demais e chato. Mas “O Solista” me comoveu então vamos ao resumo rápido.

Steve Lopez, colunista do jornal Los Angeles Times, está à procura de novas idéias para sua próxima coluna quando certo dia ele conhece um mendigo com problemas mentais que toca, aos pés da estátua de Beethoven, um violino velho de apenas duas cordas. Impressionado Lopez procura entender como uma pessoa com tanto talento acaba indo parar nas ruas. A partir dai ele vê no mendigo o alvo pra sua próxima coluna. Sendo assim ele procura informações sobre parentes e sobre o passado de Nathaniel Ayres e acaba por descobrir a história de um ex- aluno da escola de música Julliard, que tocava violoncelo quando era criança, mas quando foi parar nas ruas de Los Angeles passou a tocar violino.

A história, na qual seria apenas mais uma coluna de um jornal, conquista o próprio autor, Lopez acaba se tornando amigo do músico e passa o filme tentando ajudá-lo a ter uma carreira e desenvolver as habilidades dele como músico. Além disso, em uma noite enquanto ele vê Nathaniel adormecer numa cama improvisada no chão ao lado de ratos, acaba se vendo de perto a dura realidade dos moradores de rua em meio às drogas e a violência.

Além da história baseada em fatos reais contada pelo próprio Steve Lopez em um livro ser muito bonita a escolha dos atores também foi bem feita.

Confesso que a único filme que eu assisti com o Downey Jr foi Homem de Ferro, um filme com muito mais ação e efeitos especiais que acabam por deixar de lado a interpretação do ator. Depois de assistir “O Solista” acabei por descobrir o talento por trás do Homem de Ferro. O ator transmite claramente o envolvimento que Lopez teve com a história de Nathaniel, além de trazer um lado engraçado em determinadas cenas.

Quanto a Jamie Fox, uma vez consagrado com o Oscar de melhor ator na sua interpretação de Ray Charles, prova mais uma vez que deveria largar sua carreira de cantor e se dedicar inteiramente à de ator. Fox demonstra perfeitamente a emoção do personagem a cada acorde e a paixão forte pela música que Nathaniel tem.

O filme dirigido por Joe Wright (Desejo e Reparação) é conduzido de forma brilhante ao demonstrar a história de vida do músico e o quanto Steve Lopez se envolve pra ajudar o novo amigo.

No Brasil, lançado no inicio de novembro do ano passado, “O Solista“ acabou tendo seu brilho ofuscado pelo furor do lançamento de “Lua Nova” que estava por vir, além do fenômeno “Avatar” que também seria lançado em breve, então acabou não abocanhando grandes bilheterias nem sendo muito comentado. Pra mim é um drama bonito sem ser clichê e que vale a pena ser conferido.

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Arraste-me para o Inferno – Terror?

Título Original: Drag Me To Hell
Ano de Lançamento: 2009
Direção: Sam Raimi
Elenco: Justin Long, Alison Lohman, Lorna Raver, Dileep Rao, David Paymer, Adriana Bazarra.

Mesmo para um filme com um nome tão sugestivamente trash (a adaptação pro português conseguiu, claro, como quase sempre, ficar pior – Arraste-me Para o Inferno meio que já te avisa o que está por vir, né?), juro que esperava mais de Drag Me To Hell.

Primeiro que, sem noção alguma da história do filme, e vendo apenas as imagens dos encontros da Sra. Ganush – com quem eu até simpatizei, pra falar a verdade. Mocinha odiável aquela Christine, pelamor – com a dita heroína, Christine Brown, a impressão que eu tinha era que ela – a Sra. Ganush – era o demônio a que se refere o filme.

Aliás, antes de desenvolver isso, um resumo básico da história: Christine é uma corretora de empréstimos num banco, que está quase conseguindo uma promoção. Pra ficar bem com seu chefe, nega uma extensão dum empréstimo à Sra. Ganush. Claro que a cvelha nojenta era uma cigana que amaldiçoa a loira, pondo em seu caminho um demônio que a perturbará por três dias e depois virá levar sua alma diretamente para o inferno.

Pois bem. Antes de qualquer coisa: quão imensamente desnecessário era tornar a Sra. Ganush uma espécie de morto-vivo, um quase cadáver, que tosse catarro num lenço e logo depois retira as dentaduras com fios marrons de saliva para chupar da maneira mais barulhenta possível uma bala qualquer? Só eu senti um quê de preconceito contra os gipsies? (Por que sim, todos os ciganos no filme são algo parecido.)

Quando se conhece o final do filme (que eu estou morrendo de vontade de revelar e fazer todo mundo desistir do terrorzinho logo, mas não vou), essa impressão se estabelece com ainda mais força; a idéia é de que sim, Christine é uma egoístazinha que NÃO deve levar razão na história, mas ainda assim, como que a gente fica com raiva da loira bonitinha que desprezou a velha nojenta que nem limpar as unhas limpava?

Falando em coisas desnecessárias; a primeira cena de ‘luta’ – eu diria que a cena que verdadeiramente nos apresenta a sra. Ganush como a velha idiota, a errada da história – uma cena dentro do carro da protagonista, dentro dum estacionamento vazio (exceto por dois outros carros, que, claro, no meio da luta angustiante, pés incontroláveis no acelerador, são AMBOS atingidos pelo primeiro), é uma injustificável sequência de violência verbal e física entre as duas: tapas, pontapés, olhos grampeados… Opa, a sra. Ganush leva um soco que arranca sua dentadura. O que ela faz? Segura Christine enquanto procura pelos dentes para mordê-la com raiva? Chora humilhada? Dá um soco de volta? Queria eu.

Ela inexplicavelmente se joga em cima da outra e começa e chupar o seu queixo.

Eu até teria suportado tal cena abominável, se logo após não tivesse descoberto que o que a cigana precisava – tudo o que ela queria, afinal – era roubar um botão da roupa da mocinha, para amaldiçoá-lo.

Veja bem; ela só precisava amaldiçoar um botão e sua vingança estaria completa. Chupar o rosto da outra ou tentar enforcá-la absolutamente não faziam parte do ritual, só serviam – mais uma vez – para nos fazer gostar da menininha que queria um salário maior e humilhou a velha nojenta, pra justificar que achássemos a cigana o ser mais insignificante e mau – ah, que cigana má – da história.

E isso deve ser o quê, os primeiros vinte minutos de filme?

É.

Antes de pular para quando a podre -opa- a pobre corretora começa a ser atormentada pelo espírito mau, preciso comentar a sideline story do início do filme, e que teoricamente deveria ter alguma correspondência óbvia – pelo menos o suficiente para que o espectador pudesse fazer um link pra situação atual, da corretora – em que um menino é atormentado pelo mesmo espírito, vai para uma “exorcista” e não consegue ser salvo. Bem, a explicação dada para que o espírito estivesse atrás dele é que ele “roubou um colar de prata de um grupo de ciganos”. Espera, mas o espírito não começava a te perseguir quando um cigano malvado amaldiçoasse algo seu?

Talvez, se eu parar para pensar, alguma explicação de como as histórias se relacionam me venha à cabeça. Mas, além de que esse tipo de coisa, principalmente em filmes de terror, mais sobrecarregados que outros tipos, devia ficar claro; o filme não me cativou o suficiente, desculpem, para me fazer pensar nisso.

Inicialmente, eu relacionei a colar de prata com a moeda de prata que ela dá para o namorado; mas claro que essa idéia se dissolve rapidamente. Mas a moeda, ah… O ênfase nela foi tão nada sutil que fica absolutamente impossível não achar o final absolutamente previsível.

Agora. Talvez, mesmo com toda a previsibilidade e as incoerências preconceituosas, talvez houvesse algo a se levar a sério ali. Um pouquinho da história era engolível. Mas o filme absolutamente NÃO convence. O personagem mais verdadeiro ali foi o ‘vidente’, e só porque ele explora a garota e não lhe dá muitas esperanças.

Logo no primeiro dia de “possuída”, a louca jorra sangue bela boca e pelo nariz, como um esguicho, em cima do chefe, e simplesmente diz “não estou me sentindo bem” e vai embora, enquanto o chefe se preocupa com o sangue que pode ter entrado em contato com alguma de suas mucosas.

Tipo. Não sei vocês, mas eu acho que se alguém jorrasse sangue em mim eu ficaria mais preocupada com a pessoa que com minha roupa manchada.

A isso se segue, entre outras coisas, a uma visita da desesperada no vidente que diz que ela poderia sacrificar um animal para o demônio, de modo que ele desistisse dela. Absurdamente abismada, Christine lança um revoltadíssimo “Eu sou vegetariana! Amo animais, não vou sair por aí matando nada!!”

Claro, em uns cinco minutos o demônio dá uns tapas nela e ela mata o gatinho de estimação.

E claro, não funciona. A essa altura o demônio já está ganhando da garota. Ela se desespera. Paga uma espécie de exorcista – a-rá! A mesma exorcista do garoto do início da história. Sabia que aquilo não estava lá por acaso!

E então… O clímax do filme é o mais anti-clímax possível.

Só posso dizer que há um bode e uma cova aberta na chuva. Daqui não passo. É por sua conta e risco.