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O Pistoleiro

Subtítulo: A Torre Negra
Autor: Stephen King
Tradutor: Mario Molina
Ano: 2004 (mais recente versão atualizada pelo autor)
Editora: Objetiva
Nº. de páginas: 224

“O homem de preto fugia pelo deserto e o pistoleiro ia atrás.” Esta é a frase que abre a obra-prima do escritor norte-americano Stephen King. O Pistoleiro é o primeiro dos sete livros da tão aclamada série A Torre Negra. Este foi o segundo livro do escritor que li (para constar, o primeiro foi O Iluminado) e, pela segunda vez, não gostei do trabalho do autor. Até achei que havia algo de errado comigo. Gosto de histórias de terror. Ele é o mestre do terror. Pensei que seria o encaixe perfeito. Não foi, entretanto.

O volume um da supracitada série narra o início da busca do pistoleiro Roland Deschain pela Torre Negra, lugar que rege o tempo e o espaço e onde se encontra a salvação para o mundo do pistoleiro, que está em decadência. Roland crê que um homem (o homem de preto, como ele o chama) possui informações que possam auxiliá-lo em sua busca até a almejada Torre. A maior parte da trama se desenrola no deserto deste mundo que está irreconhecível e vazio. Na sua implacável jornada, ele se depara com amigos, inimigos e situações inesperadas e desesperadoras. A Torre Negra se torna o sentido de sua vida. Sua obsessão.

Ao escolher este livro na biblioteca confiei mais na reputação do autor do que nos elementos que compunham a trama. Confesso que aventuras ancoradas em desertos com atiradores não me atraem. Contudo, permitindo-me uma observação fria e não-tendenciosa, notei que havia ali vários ingredientes para uma leitura, se não agradável, interessante. Stephen King nos aborda com uma introdução onde explica mais sobre a série. Confesso que fiquei bastante interessado pelo fato de ter levado quase 50 anos para a conclusão da saga. A introdução instigou-me a ler o livro. Trouxe-o para casa.

Durante grande parte da narrativa, o autor nos apresenta uma escrita presunçosa, filosófica e monótona. Perder-se na história não leva menos do que um parágrafo e não é fácil interessar-se pelos personagens. Eles são tão misteriosos e maçantes quanto o mundo em que vivem. Sendo o primeiro livro de uma série, notei que esta é uma obra que King fez, inconscientemente ou não, para si mesmo no auge de seus 19 anos. À época, ele estava impregnado de O Senhor dos Anéis, obra que foi a base e inspiração para a criação de sua própria aventura. Presumo que, conseguintemente, ele tenha voltado o foco da história mais para os leitores e menos para si, o que definitivamente é algo positivo.

Há raras partes em que alguma ação de fato ocorre. Roland cai em armadilhas deixadas ao longo do caminho pelo homem de preto. É quando ele tem que ser rápido e não vacilar no manejo das pistolas. Fica-se claro que ele é um exímio pistoleiro, um dos melhores e um dos últimos que restam no extenso e vazio mundo paralelo. Há indícios de intersecção entre nosso mundo e o de Roland, o que pode ser um fator para fazer a trama se mover e se tornar interessante. Todavia, isso não passa de especulação de minha parte. Não interessei-me a ir em busca dos próximos livros, que ficam mais e mais grossos à medida que a série vai de encontro ao seu fim. Levando isso em consideração, atenho-me a criticar o pouco que sei dos livros como um todo.

E, como é de praxe, antes que eu entregue mais desse intrincado livro ou percorra parágrafos com teorias e críticas desnecessárias (e certamente negativas), finalizo a resenha de um dos livros que mais desgostei até o presente momento. Quase que contraditoriamente, recomendo que leiam o livro e tirem suas próprias conclusões, não se deixem influenciar pelo resenhista que vos escreve.

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Mau Começo

Subtítulo: Desventuras em Série (vol. 1)
Autor: Lemony Snicket
Tradutor: Carlos Sussekind
Ano: 2001
Editora: Companhia das Letras
Nº. de páginas: 148

Esta é uma resenha muito desagradável, pois vai tratar de um livro muito desprezível.

Para todos aqueles que acompanharam a série, ou leram algum dos treze livros dela, os adjetivos negativos e os infortúnios que afloram as páginas de Desventuras em Série não são novidades. Talvez a princípio, mas cedo ou tarde nos acostumamos com a má sorte que insiste em pairar sobre a cabeça dos irmãos Violet, Klaus e Sunny Baudelaire. Os três passam por maus bocados e entram em becos aparentemente sem saída enquanto o vilão, o temível Conde Olaf, mexe suas cordinhas e faz de tudo para tornar a vida deles um inferno.

Violet é a mais velha dos três com 14 anos; ela tem um talento nato para criar as mais diversas invenções. Quando ela amarra seu cabelo com uma fita para mantê-lo fora dos olhos seu cérebro funciona como engrenagens trabalhando em perfeita ordem. Klaus é o irmão do meio e tem 11 anos; o que ele mais gosta de fazer é ler. Já leu grande parte do acervo da imensa biblioteca da Mansão Baudelaire. Por fim, vem Sunny, que é apenas um bebê; seu passatempo favorito é morder coisas resistentes com seus quatro dentes afiados. Ela se comunica na língua dos bebês e, para que outras pessoas possam entendê-la, é necessário ter um dos seus irmãos por perto para traduzir. Esse é o perfil das personagens principais. Os talentos de cada um funcionam como um deux ex machina naquelas situações onde tudo parece estar perdido.

As desventuras dos irmãos Baudelaire começam com um incêndio que destrói sua mansão e leva a vida de seus pais. Um banqueiro e amigo da família chega para dar as más notícias para eles, que estavam numa praia na hora do incidente. Como crianças normais, os três ficam abalados e chegam até a pensar que tudo não passa de uma brincadeira de mau gosto. Infelizmente, Violet, Klaus e Sunny ficam órfãos e tornam-se herdeiros da grande fortuna deixada por seus pais. O banqueiro é responsável por tomar conta dessa fortuna até que Violet atinja a maioridade e possa administrar por conta própria o dinheiro, entretanto, os órfãos terão que morar com um tio distante no meio tempo. E é nesse momento que as vidas deles começam a ficar mais desagradáveis.

Conde Olaf é um homem alto e magro e de uma sobrancelha só. Ele é líder de uma trupe de artistas que representam peças de teatro. Ele vive numa casa fantasmagórica e repugnante: o novo lar dos irmãos Baudelaire. Olaf trabalha com afinco em prol da permanência da infelicidade na vida dos órfãos, além de criar planos malévolos para se apossar da fortuna. Acho que já falei demais da história, não?

Visivelmente, Desventuras em Série é destinada ao público infantil. O autor usa uma linguagem simples e engraçada para desenvolver suas histórias; em alguns pontos ele emprega palavras e expressões não tão corriqueiras, mas, logo em seguida, descreve seus significados. É uma forma interessante de se aumentar o vocabulário do leitor sem que este tenha que recorrer ao dicionário. E convenhamos que crianças não costumam ser fãs de dicionários, a não ser que a criança em questão seja Klaus Baudelaire. As ilustrações geralmente vêm nos começos dos capítulos e dão uma pista do que pode acontecer dali até o começo do próximo capítulo. São ilustrações interessantes e muito bem trabalhadas.

Não é por ser voltado para o público infantil que os adultos deixariam de ler essa série tão desagradável. O que quero ressaltar neste parágrafo é a ignorância que existe na mente de alguns pais que chegam a proibir seus filhos de ler os livros de Desventuras em Série. As crianças são maltratadas na história e o vilão é implacável e não tem dó das três crianças indefesas que ele trata com tanto escárnio. Além disso, a maioria dos adultos na história é representada como pessoas más ou pessoas boas e totalmente manipuláveis. Esse é o teor da história: infortúnio na vida de três crianças órfãs. O autor interage com o leitor em diversas páginas declarando que, todo aquele que não gosta de história com finais tristes e trágicos deveria fechar o livro e ler um conto de fadas. E o mais engraçado é que é verdade. Entretanto, pode-se ver Desventuras em Série como uma história interessante, cheia de mistérios e bem educativa. Os pais deveriam saber educar seus filhos e guiá-los enquanto leem os livros da série. As crianças são espertas e sabem diferenciar o certo do errado até melhor do que muitos adultos. Desventuras em Série reforça esse ponto essencial que deve fazer parte da personalidade das pessoas ao mostrar que, mesmo cercados por gente má ou que não vá ajudá-los, os irmãos não se deixam influenciar e não se vingam. Elas não se tornam vis e estão sempre trabalhando em equipe, reforçando o espírito de união familiar apesar das complicações. São esses os pontos que muitos pais não vêm ou não querem ver.

Por mais que os órfãos Baudelaire sofram, é possível passar bons (porém, breves) momentos com eles e acompanhá-los nas várias situações difíceis onde eles devem unir forças e conhecimentos para derrotar os planos de Olaf. Os irmãos são inteligentes e muito educados e buscam, apenas, um final feliz. Mau Começo acaba sendo um bom começo para essa série tão perspicaz. Alguns dos livros posteriores são ligeiramente maçantes e repetitivos quanto ao desenrolar da história, como se eles fossem seguir determinado padrão até o fim. Porém, como numa súbita guinada, mistérios surgem e tudo vai ficando mais e mais interessante. Situada num universo muito parecido com a Inglaterra dos anos 30, essa história é encantadora e, sinto dizer… muito, muito, muito desagradável.

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O Conto da Ilha Desconhecida

Autor: José Saramago
Ano: 1998
Editora: Companhia das Letras
Nº. de páginas: 64

“Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe, Dá-me um barco”. Essas são as palavras iniciais desse conto que vem no formato de um pequeno livro, mas que possui uma grande mensagem por trás.

O Conto da Ilha Desconhecida narra a história de um homem que pede a um rei um barco para ir atrás de uma ilha desconhecida. Uma ilha que homem algum jamais pisou o pé. O homem é obstinado e, parado no batente de uma das várias portas do castelo, insiste que o rei lhe dê um barco para seguir sua viagem. Após uma arguta argumentação com o rei, o homem consegue o que quer. Ele tem seu barco, mas nunca navegou na vida. Isso não é problema para ele. Em meio a tudo isso, o homem inspira a faxineira que trabalhava no castelo do rei. Ela toma a decisão de seguir o homem e ajudá-lo nessa busca. E assim a história se desenrola em poucas e pequenas páginas com ilustrações marcando o caminho.

Para quem não é familiarizado com o autor da obra em análise, ele é José Saramago. O português nascido em Ribatejo, uma província portuguesa, em 1922, foi ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1998. Ele é considerado um dos autores mais notáveis da literatura moderna e suas obras geralmente abordam questões da condição humana. Suas histórias frequentemente se lançam como um grande “e se…?”. E se isso fosse possível? E se isso acontecesse? Como as pessoas reagiriam? Como eu agiria? E com isso ele desenvolve suas tramas bem boladas baseadas em frases perspicazes e situações inusitadas. Saramago é um autor que sabe analisar a mente humana sob uma perspectiva única.

Costumeiramente, diz-se que as obras de Saramago não encontram um meio termo no gosto das pessoas: ou você gosta, ou você não gosta. Tal assertiva é fundamentada sobre diversos motivos, porém, o mais famoso é o modelo da escrita. Pontos de interrogação? Pontos de exclamação? Ponto e vírgula? Travessões introduzindo diálogos? Saramago não se atém a isso. Ele faz uso de somente duas formas básicas de pontuação: pontos finais e vírgulas. O fluxo do texto corre solto pelas páginas e a narrativa se mistura com os pensamentos dos personagens e, às vezes, do próprio autor. Há frases longas que podem ocupar até duas páginas. Para introduzir um diálogo ele usa uma vírgula e a primeira letra maiúscula na palavra logo depois dela. De início, é muito peculiar, mas, uma vez envolvido com a história, é possível acostumar-se rápido com a escrita.

Os personagens não possuem nomes, tampouco as cidades e os países. Não há datas específicas. O rei é o rei, o homem é o homem, a faxineira é a faxineira. A história poderia se passar em qualquer época, em qualquer lugar. Isso dá margem para a imaginação trabalhar mais livremente. Pode-se imaginar como quiser, na época que desejar.

Vale ressaltar que a gramática que vige nos livros é a de Portugal (isso a pedido do autor). Muitas palavras e expressões ficam estranhas em algumas frases, até porque nós, brasileiros, não estamos acostumados com elas. As construções gramaticais, no todo, soam bem diferentes também. Contudo, tudo isso acaba sendo interessante e os dicionários estão aí para esclarecer o significado de algumas palavras. Para todas as outras não encontradas, a internet está à disposição.

O livro em questão não foge aos costumes de escrita do autor, citados acima. É válido dar uma oportunidade e apreciar o conteúdo dessas 64 páginas. A história encanta e através de uma cortina de metáforas simples e bem boladas, podemos enxergar uma mensagem, também simples, mas valiosa  e sincera. As imagens que permeiam algumas páginas ilustram a história de uma forma diferente: não é algo direto, é metafórico. É preciso ir um pouco além para achar significados às aquarelas. Eu as interpretei de uma forma, você poderia interpretar de outra e nós dois poderíamos estar certos.

Eu não poderia falar mais dessa história sem entregá-la quase que totalmente. Para evitar que tal aconteça e finalizar esta resenha, poderia acrescentar que esse livro retrata o homem. Estamos constantemente buscando alguma coisa só que geralmente não sabemos por onde começar a procurar. Esse livro mostra um homem que aprendeu o caminho em busca de seu sonho: uma ilha desconhecida.

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O Símbolo Perdido

Autor: Dan Brown
Tradutora: Fernanda Abreu
Ano: 2009
Editora: Sextante
Nº. de páginas: 496

O mais recente livro de Dan Brown, O Símbolo Perdido, já é um sucesso de vendas, como era de se esperar. O autor traz em seu currículo literário obras populares e polêmicas como Anjos & Demônios (2000) e O Código Da Vinci (2003). Não tendo publicado nada desde 2003, esse novo livro vem sendo ansiosamente aguardado e se revela um prato cheio principalmente para os fãs do autor.

Nessa nova trama, o famoso simbologista de Harvard, Robert Langdon, nos é apresentado mais uma vez. O professor é convocado às pressas pelo suposto secretário de seu amigo e mentor, Peter Solomon, para dar uma palestra no Capitólio dos Estados Unidos. Ao chegar lá, Langdon nota, para sua surpresa, que não havia palestra alguma e no decorrer de algumas páginas sabemos que ele fora enganado e que se encontra num beco sem saída: Solomon está desaparecido e em perigo e Mal’akh, seu sequestrador, exige a ajuda de Robert para localizar um símbolo perdido em troca da vida do amigo.

Segundo Mal’akh, os maçônicos pais fundadores da capital americana esconderam um tesouro na cidade que daria poderes sobre-humanos a quem o encontrasse. E esse é o ponto de partida para essa eletrizante narrativa que se desenrola com maestria. Katherine, irmã de Peter, é a nova ajudante de Robert; Mal’akh é um vilão tão horripilante quanto seus antecedentes; a CIA se envolve nessa questão de “segurança nacional”. Os mistérios são intermináveis.